Senhor Presidente,
Senhores membros do Governo,
Srªs e Srs Deputados,
A alteração do quadro legislativo nacional que regula a avaliação de impactes
ambientais é uma necessidade há muito sentida. Pode-se dizer que remonta à data
em que foi publicado o primeiro diploma legal sobre esta matéria.
Isto porque o Decreto-Lei nº 186/90, de 6 de Junho, para além de transpor mal
para a ordem jurídica interna a directiva comunitária 85/337/CEE, cedo se mostrou
desajustado à salvaguarda dos valores que pretendia acautelar, ou seja, a prevenção
de perturbações irremediáveis no meio ambiente. Daí que, ao longo de quase uma
década, a legislação sobre a avaliação de impactes ambientais pouco tenha contribuído
para evitar erros graves e a delapidação de parte do nosso património natural
e construído. E - em abono da verdade - é bom que se diga que os diversos Governos
nem sempre souberam dar o exemplo.
Ao longo da VI e VII legislaturas foram apresentadas nesta Câmara - pelo PCP
e o PEV, mas também pelo PS - várias iniciativas para alterar e melhorar o referido
quadro normativo. Todas foram rejeitadas. Na anterior legislatura pelo PSD,
na actual pelo PS. No início desta legislatura o Partido Socialista teve a oportunidade
de encetar um processo de revisão da legislação sobre a avaliação de impactes
ambientais, aproveitando uma iniciativa do PEV. Ao fim de dois anos de discussão,
optou pela sua inviabilização. Pelo meio, o Governo lá foi fazendo uns remendos
com a publicação do Decreto-Lei nº 278/97. Entretanto, perderam-se mais de dois
anos.
Só praticamente no fim da legislatura é que estamos a discutir uma autorização
ao Governo para legislar no sentido da alteração do regime jurídico da avaliação
de impactes ambientais. Curiosamente, quando já foi ultrapassado o prazo para
a transposição para a legislação interna da nova directiva comunitária. Definitivamente,
este Governo e o partido que o suporta não se têm manifestado muito preocupados
com a necessidade de prevenir agressões ao ambiente e garantir o equilíbrio
dos ecosistemas.
Senhor Presidente,
Senhores membros do Governo,
Srªs e Srs Deputados,
Numa altura em que está em discussão pública o projecto de decreto-lei que resultará
da autorização legislativa que estamos a discutir, importa balizar os aspectos
que, na opinião do PCP, merecem ser considerados na revisão da legislação sobre
a avaliação de impactes ambientais.
Em primeiro lugar, a necessidade dos estudos de impactes ambientais serem suficientemente
credíveis. Ora essa credibilidade é tanto maior, quanto maior for a independência
de quem os realiza.
Sendo o promotor do projecto o principal interessado nos benefícios que pretende
retirar do mesmo é compreensível que ao promover o estudo de impactes ambientais
tente desvalorizar os efeitos do mesmo no meio ambiente. É, portanto, fundamental
que na elaboração dos estudos, o promotor esteja acompanhado por uma entidade
independente que possa promover estudos alternativos quando as medidas de minimização
propostas não salvaguardem, devidamente, os valores ambientais existentes.
Em segundo lugar, a necessidade de garantir um maior envolvimento e participação
efectiva das populações na discussão pública da avaliação de impactes ambientais.
Infelizmente o que tem sucedido é que a discussão pública tem sido encarada
como mero formalismo legal.
Em regra, as populações interessadas só se apercebem do processo de avaliação
quando é tomada a decisão sobre a execução dos projectos. Os exemplos são muitos
e os resultados estão à vista de todos. Ou não foi isso que se passou com a
co-incineração dos resíduos perigosos nas cimenteiras ? Ou não foi isso que
se passou com a maioria de projectos sujeitos a avaliação de impactes ambientais
entretanto realizados ?
É, portanto, fundamental que na discussão pública sejam envolvidas as autarquias
locais e as universidades mas também as associações de defesa do ambiente e
as colectividades em geral. É nestas últimas, de resto, que as populações se
encontram com maior frequência e pode ser promovida a sua participação cívica.
Mas, para que as populações participem nos processos de decisão e se envolvam
na sua decisão, é necessário aperfeiçoar os mecanismos de acesso e consulta
aos documentos da administração e desburocratizá-los. Nesta matéria não basta
legislar bem. É também necessário que os interessados conheçam os normativos
legais que podem utilizar na defesa dos seus direitos.
Em terceiro lugar, é necessário que todo o processo de avaliação de impactes
ambientais seja conduzido por uma comissão, que integre representantes da Administração
Pública, mas também representantes das autarquias onde o projecto vai ser executado,
das associações de defesa do ambiente e técnicos independentes de reconhecida
capacidade.
O país não entende que continuem a ser feitos relatórios de avaliação de impactes
ambientais, cujas conclusões são depois postas em causa por sectores da comunidade
científica.
Em quarto lugar, é fundamental que se entenda que os impactes negativos no meio
ambiente não resultam apenas de grandes projectos. Há pequenos iniciativas que
por vezes causam maiores danos no ambiente, sem que os respectivos projectos
sejam objecto de estudo de impacte ambiental. A valorização das autarquias locais
em todo o processo pode evitar erros que, na maior parte dos casos, são irrecuperáveis.
Senhor Presidente,
Senhores membros do Governo,
Srºs e Srs Deputados,
Os valores ambientais que herdamos dos nossos antepassados têm que ser preservados
e transmitidos nas melhores condições às gerações futuras. Os processos de avaliação
de impactes ambientais e a forma como são conduzidos são fundamentais para atingir
esses objectivos.
Para isso não basta que exista uma lei. É necessário que essa lei seja a melhor
possível.
Esperamos, por isso, que o quadro normativo resultante desta autorização legislativa,
não encare, como até hoje, as avaliações de impactes ambientais como meros processos
burocráticos, que apenas servem para atrasar obras e empreendimentos, cujos
resultados são conhecidos à partida.
Que o Governo aproveite os poucos meses que restam desta legislatura para fazer
legislação que, de uma vez por todas, credibilize e dê consistência aos estudos
de impactes ambientais.
Disse.