Intervenção do Deputado
Joaquim Matias
Sobre co-incineração de resíduos industriais perigosos
nas cimenteiras de Souselas e de Outão
(em sessão de perguntas ao Governo)
20 de Abril 2001
Sr. Presidente,
Sr. Secretário de Estado,
A legislação aprovada pela Assembleia da República exigia
com clareza o conhecimento do que se deve fazer a todos e a cada um dos resíduos
industriais, designadamente os perigosos. Por seu lado, a Comissão Científica
Independente também foi clara nas restrições a colocar
a alguns resíduos, dizendo mesmo que alguns podem arder, mas que o seu
teor em halogéneos ou em metais pesados não lhes permitem ser
directamente co-incinerados. Mais: definiu que era necessário um conhecimento
prévio do que se produzia em Portugal, o que, como se sabe, não
existe, e exigia que se determinasse o tratamento adequado para cada um dos
resíduos a co-incinerar. Nada disto está feito, mas o Governo
decidiu, com os compromissos que tem com as cimenteiras, avançar com
a co-incineração!
No entanto, quando se pergunta o que é que vai co-incinerar, o Governo
apenas pode responder como M. de La Palice, dizendo que vai co-incinerar aquilo
que pode ser co-incinerado e daqui não pode sair, porque, efectivamente,
não sabe mais, também não sabendo, obviamente, o que há-de
fazer ao que não pode ser co-incinerado.
Aqui entronca uma questão fundamental, relativa à estação
de tratamento de resíduos industriais, que é uma unidade industrial
e que, como tal, tem de ser dimensionada quantitativa e qualitativamente, mas
que não o pode ser. Pergunta-se, então, o que será esta
estação de tratamento de resíduos industriais. Será,
naturalmente, uma loja de porta aberta e com anúncios nos jornais a chamar
quem tem resíduos que possam ser co-incinerados. Depois, aparecerão
os resíduos, far-se-ão umas análises e ver-se-á
se poderão ou não ser co-incinerados. Mas que resposta se dará,
depois, aos industriais quando se descobrir que os resíduos não
podem ser co-incinerados? Também não se sabe!
Mas, Sr. Secretário de Estado, o seu também é o ministério
responsável pelo ordenamento do território e todos nós
vimos com estupefacção como é que ao Presidente da Câmara
Municipal de Sines aparece em «casa» uma unidade industrial que
não conhecia e que não estava prevista no ordenamento daquele
território. Mas, mais grave, é que essa unidade nem sequer iria
ser em Sines mas em Santiago do Cacém!