Intervenção do Deputado
Joaquim Matias
Petição n.º 29/VIII, solicitando que a Assembleia
da República
intervenha com vista à revisão do regime em que se processa a navegação
ao largo do Cabo de São Vicente de acordo com o que a este propósito
recomenda o Centro Internacional de Luta Contra a Poluição
do Atlântico Nordeste (CILPAN)
6 de Abril de 2001
Sr. Presidente,
Srs. Deputados
Começam a ser demasiado frequentes, também na nossa costa,
acidentes nos transportes marítimos, com graves consequências
para a destruição dos ecossistema marinhos, assim como se multiplicam
as transgressões às leis do mar, no que se refere à prática
de agressões ambientais, cujos autores passam impunes, beneficiando
da falta de vigilância e de fiscalização existentes.
A presente petição, que chama a atenção para
os riscos associados a acidentes de navegação ao largo do Cabo
de São Vicente, devido ao elevado tráfego marítimo e
à proximidade costeira do corredor ascendente, é significativamente
subscrita por mais de 28 000 peticionantes.
Alertam os peticionantes para duas questões particularmente graves:
a distância da localização mais próxima dos rebocadores
de alto mar, em Sines, cujo tempo de deslocação para o local
de um eventual acidente por falha mecânica do navio seria superior ao
tempo em que, em determinadas condições atmosféricas,
o mesmo encalharia na costa portuguesa, e a não existência de
uma estação de controlo de navegação costeira.
O Governo português subscreveu o Acordo de Cooperação
para a Protecção das Costas e das Águas do Atlântico
Nordeste contra a Poluição (Decreto n.º 37/91, de 18 de
Maio), em que, inclusivamente, foi criado o Centro Internacional de Luta contra
a Poluição do Atlântico Nordeste (CILPAN), e também
ratificou a Convenção para a Protecção do Meio
Marinho do Atlântico Nordeste, em que se obrigou a tomar medidas de
prevenção, protecção e vigilância da zona
marinha.
No entanto, nada foi feito e o Governo, nas ocasiões em que o problema
foi debatido na Assembleia da República, prometeu medidas de curto
prazo, que justificaram o voto contra do Partido Socialista relativamente
a iniciativas de prevenção e vigilância. Porém,
essas medidas prometidas pelo Governo também não se viram.
Além disso, não podemos deixar de fazer um registo crítico
ao Governo, que ignorou completamente o pedido que lhe foi feito através
da 4.ª Comissão, no relatório intercalar da petição,
dificultando este debate. Pelos vistos, em mais de quatro meses, apenas teve
tempo para responder à Sr.ª Deputada Jovita Ladeira, que não
à Comissão.
Em conclusão, diremos que o Governo não tem estado à
altura de garantir a segurança do tráfego marítimo e
que o Partido Socialista não terá mais motivos para continuar
a rejeitar iniciativas legislativas desta Assembleia, que urge tomar a curto
prazo.