Intervenção do Deputado
António Filipe
Pedido de esclarecimento ao Deputado Guilherme Silva
(PSD)
que em declaração política atribuiu ao Governo
a responsabilidade pelos recentes incidentes ocorridos na PSP
26 de Abril de 2000
Sr. Deputado Guilherme Silva
Estava eu preparado para registar que a intervenção que fez
da tribuna teria sido porventura a mais serena das que V. Ex.ª fez nos
últimos tempos em matéria de segurança interna, mas com
o que se passou no Plenário nestes últimos minutos o Sr. Deputado
pareceu querer desmentir essa minha afirmação ao falar em motim,
para se referir à manifestação que houve no Terreiro
do Paço há uns anos atrás e que, de facto, representou
um passo muito significativo na conquista de direitos sócio-profissionais
por parte dos profissionais da polícia.
Mas, dizia eu, a sua intervenção, que foi como que o discurso
de tomada de posse de V. Ex.ª como ministro-sombra da Administração
Interna, procurou ter um tom mais sereno para abordar problemas de segurança
interna. Centrar-me-ia em dois aspectos que retive da sua intervenção
e, relativamente a um deles, gostaria que o Sr. Deputado clarificasse melhor
a posição do PSD.
Um desses aspectos diz respeito à exigência que é devida
aos profissionais das forças de segurança no cumprimento das
suas missões e à sua postura perante o cumprimento da lei, na
medida em que é inequívoco, quanto a nós, que deve ser
exigido aos profissionais das forças de segurança exemplaridade
no cumprimento da lei e no respeito pelo funcionamento tanto do Estado de
direito como da justiça. Isso para nós é inequívoco
e o Sr. Deputado fez declarações a esse respeito daquela tribuna
que importa registar.
Um outro aspecto tem a ver com o respeito que é devido aos profissionais
das forças de segurança, designadamente em relação
ao seu estatuto. E é aí que, de facto, aquilo que o Sr. Deputado
aqui disse deixa alguma perplexidade, porque o Sr. Deputado pareceu preocupado
com a modernização e com o melhoramento do estatuto dos profissionais
das forças de segurança, mas a verdade é que a contribuição
do PSD para isso não tem sido grande coisa - foi até mesmo muito
negativa quando foi Governo, o que me coloca o seguinte problema: será
que o PSD continua a querer fazer do nosso país o único onde
os profissionais das forças de segurança não têm
direitos sindicais? É que isso parece estar em contradição
com o que o Sr. Deputado expressou da tribuna.
Aliás, é também de registar que o PSD começa a
não ter desculpas para manter esta sua insustentável posição,
quando é conhecido que em todos os países da União Europeia
os profissionais da polícia têm direitos sindicais, não
se registando nenhuma situação de caos como aquela que os Srs.
Deputados do PSD pretendem fazer crer que existiria caso esses direitos fossem
conferidos aos profissionais da polícia portugueses.
O que o PSD dizia na Legislatura anterior era que não podia aprovar
o sindicato da polícia porque não podia haver sindicatos sem
direito à greve, e que isso era inconstitucional.
Hoje, a posição do PSD é a de que continua a não
estar de acordo porque não há uma norma constitucional que proíba
o direito à greve. Então, Srs. Deputados, afinal de contas em
que é que ficamos?
Somos forçados a concluir que a única preocupação
que o PSD tem em relação aos sindicatos da polícia é
a de encontrar uma desculpa para os inviabilizar. A verdade é essa!
Só que a desculpa do PSD vai ser cada vez mais esfarrapada e mais bafienta.
Portanto, para terminar, Sr. Presidente, a pergunta que deixo é a seguinte: quando é que o PSD vai abandonar esta sua posição e permitir que Portugal acompanhe os demais países da União Europeia no reconhecimento de direitos sindicais aos profissionais da polícia?