Intervenção do Deputado
João Amaral
Resolução do Conselho de Ministros que
cria uma missão para
a reforma da organização territorial do Estado
6 de Janeiro de 2000
Sr. Presidente,
Srs. Deputados,
Sr. Ministro Alberto Martins
Creio que temos de assinalar o facto de, como, aliás, já vem
relatado nos jornais, esta reunião configurar um facto novo: é
que, ao fim de 9 meses, mais coisa menos coisa, de gestão do PSD por
parte do Dr. Durão Barroso, finalmente, o Dr. Durão Barroso
conseguiu pôr o Governo e o PS a seu reboque.
Não leve isto a mal, não foi culpa minha... Agora, Sr. Ministro,
foi uma boa graçola que lhe fizeram, foi engraçado que esta
situação lhe calhasse, logo a si, ao Ministro Alberto Martins.
E esta situação, ainda por cima, é mais curiosa ainda
quando calha a propósito daquilo que é, no mínimo, o
que se pode chamar um acto de falsa contrição, por parte do
PSD, porque o projecto que vamos discutir a seguir, que tem por objecto a
relocalização distrital dos serviços desconcentrados
da administração central, revela a má consciência
do partido, o PSD, que, em relação àqueles serviços
sobre os quais incide, no essencial, o seu projecto, foi o autor da reforma
que causou aquela situação.
No entanto, o Sr. Ministro tem razão no seguinte: é que, apesar
do objecto do projecto de lei e da má consciência do PSD, há
um problema real.
Não sei muito bem de que partido é este Governo, porque parece
que há bocado foi dito que o Governo anterior não era do mesmo
partido, parece
Há bocado ouvimos o Sr. Ministro Jorge Coelho
dizer que os outros Ministros não trabalhavam - e V. Ex.ª deve
ser um desses casos - e que o governo anterior é que tinha a culpa,
portanto, o Governo actual deve ser de outro partido...
Bom, mas dizia eu, a realidade é esta: este problema manteve-se, ao
longo deste tempo, sem solução. E qual é este problema?
O problema é que há um conjunto de importantes cidades do País,
capitais de distrito, que foram esvaziadas de serviços, o que teve
repercussões negativas não só na vida dessas cidades
como naquilo que deve ser uma das características essenciais da Administração
Pública, que é a sua proximidade da população.
Queremos deixar claro que entendemos que este processo deve ser invertido,
isto é, que nas cidades capitais de distrito devem haver serviços
a nível de delegação, de subdelegação,
mas a um nível adequado, e que todo o processo de desconcentração
também deve ter sempre como referência essa realidade que é
o distrito.
Agora, há um problema. O que é que o Sr. Ministro veio aqui
anunciar? Mais uma vez, veio anunciar a reforma administrativa, aquela que
já se anunciava no tempo em que pediu a palavra o Almirante Américo
Tomás - já nesse tempo se anunciava a reforma administrativa,
aquela que nunca se fez. E vem anunciá-la como? Com mais uma missão,
isto é, mais um serviço, mais uma estrutura, mais um calendário,
quando, ao fim ao cabo, aqui, na Assembleia, neste momento, estamos em condições
de poder discutir as linhas fundamentais dessa reforma da Administração
Pública e devemos fazê-lo para que ela, efectivamente, se realize.
O que pergunto ao Sr. Ministro é isto: é ou não adequado
que em vez do Sr. Ministro prosseguir essa linha queira cooperar com a Assembleia
da República e com as comissões parlamentares no levantamento
da situação e na definição de soluções
que permitam, finalmente, criar uma Administração Pública
moderna, desconcentrada e próxima dos cidadãos?