Intervenção do Deputado
Lino de Carvalho
Debate de urgência sobre desperdício, ineficiência e
clientelismo
na Administração Pública
19 de Abril de 2001
Senhor Presidente,
Senhor Ministro,
Senhores Deputados:
É uma evidência que o País tem, de há muito, um problema quanto ao funcionamento da sua Administração Pública.
Necessidade de maior eficácia, transparência e qualidade na prestação de serviços aos cidadãos é algo em que, seguramente, todos nos encontramos.
Necessidade, para isso, de uma reestruturação que dignifique, valorize, pague melhor e motive os trabalhadores da Administração Pública é condição essencial para atingir aqueles objectivos.
Nada disto é recente. E para aqueles que só agora, após o relatório do Grupo de Trabalho para os Institutos Públicos, acordaram para esta questão, importa lembrar que há muito da nossa parte, PCP, e dos trabalhadores da Administração Pública têm sido estudadas, sublinhadas e avançadas propostas para que a Administração Pública portuguesa corresponda àquilo que todos legitimamente esperamos dela.
O caminho certo deve ser, antes do mais, o de intervir na estrutura da Administração Central com as inerentes responsabilidades públicas de que o Estado não pode nem deve abdicar como tem feito, seja pela via directa das privatizações, seja pela via indirecta da criação de estruturas paralelas como Institutos e Fundações.
Sem dúvida que é necessário encontrar muitas vezes soluções expeditas que permitam tornar mais célere e eficaz a intervenção em áreas de interesse e de serviço público que ao Estado compete assegurar. Mas porque é que isso não é feito reestruturando, racionalizando e modernizando serviços e valorizando quem trabalha na Administração Pública?
Porque é que isso tem de ser feito esvaziando a Administração Pública e criando estruturas paralelas?
Porque é disso que, prioritariamente, se trata quando reflectimos e discutimos a proliferação de Institutos, Fundações e outras formas paralelas à Administração Pública.
Não dizemos que em casos bem definidos tal não seja perfeitamente justificável e necessário. Mas não é esse o sentido geral que se detecta nos 330 Institutos Públicos recentemente inventariados ou tidos como tal, embora nalguns casos impropriamente associados a esta polémica, como nos casos dos Institutos de Regime Especial.
Porque o sentido geral tem sido,
1.º A criação de estruturas que duplicam funções
e gastos da Administração Pública;
2.º A criação de estruturas para fugir ao controlo financeiro
das contas do Estado, seja por parte da Assembleia da República ou do
Tribunal de Contas;
3.º A criação de estruturas que funcionam como passo intermédio
ou indirecto para a privatização de serviços públicos;
4.º A criação de estruturas que não constituem mais
do que uma espécie de interfaces entre a Administração
Pública e o aparelho do PS (como ontem do PSD), com vista à contratação
de pessoal da estrita confiança partidária, principescamente pago,
sem controlo e sem seguirem a regra do concurso público, muitas vezes
sem as competências técnicas necessárias enquanto, simultaneamente,
se colocam na prateleira quadros da Administração Pública
com uma vida dedicada ao serviço público, experientes e com um
saber-fazer acumulado que, entretanto, é desperdiçado.
É este caminho, inaugurado pelo PSD e acelerado pelo PS, que o PCP critica, condena e se distancia.
É este caminho que é preciso questionar.
É este caminho que é preciso travar e inverter.
Disse.