Declaração final
do III Congresso da Oposição Democrática
aprovada na sessão de encerramento
8 de Abril de 1973
1) Os milhares de democratas presentes no III Congresso da
Oposição Democrática, reunido em Aveiro de 4 a 8 de Abril de 1973, têm a
consciência de que esta reunião a que o Governo foi obrigado por pressão das
condições internas e para tentar melhorar a sua imagem internacional constituiu
uma grande vitória das forças democráticas. A larga mobilização de democratas
efectuada em todo o País em torno da organização dos trabalhos, da elaboração das
teses e do debate dos problemas apresentados, veio no seguimento da movimentação
democrática crescente, ao mesmo tempo que traduz o descontentamento cada vez maior da
população portuguesa em face do constante agravamento dos problemas fundamentais do
País.
2) Manifestam os democratas em Congresso o seu firme e veemente
protesto contra as múltiplas acções repressivas com que o Governo procurou intimidar,
dificultar e impedir a sequência dos trabalhos. Tais acções vão desde as prisões de
numerosos democratas quando em vários pontos do país colavam cartazes do Congresso, à
proibição de sessões de trabalho preparatórias, desde o corte sistemático de noticias
sobre o Congresso pela Censura, ao encerramento do parque de campismo em Aveiro para
evitar o alojamento das camadas trabalhadoras e da juventude estudantil; desde a
retenção de excursões do «rápido» em Avanca para identificação dos passageiros
tornando Aveiro uma cidade cercada a criarão de um clima de inquietação,
propalando notícias falsas sobre pseudo-violências em Aveiro e tudo culminando com a
ferocidade com que as forças policiais atacaram a romagem dos democratas à campa de
Mário Sacramento na manhã de domingo 8 de Abril, causando feridos. Reconhecendo ser a
violência um direito dos oprimidos, o Congresso pretende que o exercício da violência
pelas autoridades contra o povo pacífico e indefeso toma o nome de desumanidade e
brutalidade.
3) Realiza-se o Congresso num momento em que os problemas do
povo português são cada vez mais graves e se verifica a total incapacidade das forças
dominantes para os resolver.
Doze anos de guerra colonial representam um crime contra a Humanidade
pela destruição de populações e culturas africanas e um sacrifício absurdo que tem
sangrado o país em vidas e recursos, constituindo profunda causa de depressão das
energias morais de um povo que precisa de as mobilizar para a construção do futuro.
0 crescente domínio do capital monopolista internacional e nacional
agrava pesadamente as condições de trabalho e de vida das massas trabalhadoras,
transfere para essas massas trabalhadoras o custo da inflação e das pseudo-medidas para
a debelar, reduz ainda mais os direitos sindicais, transformando-os em meros simulacros,
esconde a sua incapacidade para responder aos problemas e exigências reais com a
proclamação de projectos de ensino, habitação, saúde e segurança social que nada
resolvem e deixam intactas as verdadeiras causas da gravíssima situação de carência em
todos esses domínios.
0 agravamento das contradições internas do regime e a limitação da
sua base política de apoio tem levado o Governo, como resposta a essa agudização, a
acentuar a escalada repressiva em todos os aspectos e sectores da vida nacional, criando
uma situação em que para se ser acusado de subversão e receber os golpes de um poder
que não conhece limites, e suficiente tomar consciência dos problemas do país e
legitimamente procurar-lhes caminhos de solução.
4) Perante este quadro, que foi pormenorizadamente analisado por
cerca de duas centenas de teses e comunicações e em vinte e cinca longas e largamente
participadas sessões de trabalho, os democratas presentes no III Congresso da Oposição
Democrática concluem que os objectivos imediatos, possíveis de atingir através da
acção unida das forças democráticas, são:
- Fim da guerra colonial;
- Luta contra o poder absoluto do capital monopolista;
- Conquista das liberdades democráticas.
A luta por objectivos parciais e imediatos, sendo nas actuais
condições amplamente mobilizadora, não deve no entanto fazer-nos esquecer o objectivo
final da conquista do socialismo, o qual é indispensável para a construção de uma
sociedade justa e digna.
5) Perante a expansão das forças democráticas e a sua
crescente projecção no povo português, perante a radical oposição entre o movimento
democrático e o regime na analise e nas linhas de solução dos problemas fundamentais do
país, não resta outra alternativa ao Governo a não ser a repressão total da
movimentação democrática ou o reconhecimento da realidade política nacional.
0 primeiro caminho, alem de ferir os direitos elementares de qualquer
povo, revelar-se-ia inoperante como a experiência histórica demonstra.
Por isso, deve ser igualmente objectivo imediato de acção a conquista
do reconhecimento da organização democrática e da sua plena liberdade de actuação.