O 3º Congresso da Oposição Democrática
Avante! Nº 452 - Abril de 1973
Embora não disponhamos ainda de informações detalhadas sobre os trabalhos do 3º Congresso da Oposição Democrática que acaba de ter lugar, podemos desde já afirmar que a sua realização constituiu uma grande vitória das forças democráticas e uma fase muito importante da luta contra o fascismo.
Pelo grande número de democratas participantes nas estruturas do Congresso, cuja Comissão Nacional era composta por mais de 500 membros, representantes de todos os distritos do país; pelo número de teses apresentadas (quase 200), muitas delas colectivas, versando os mais diversos e importantes problemas da vida e da luta do nosso povo, nomeadamente os problemas dos trabalhadores, da juventude, da mulher, da intelectualidade, das liberdades democráticas, da guerra colonial, sindicais, do ensino e da cultura, etc., etc., teses em cuja elaboração participaram milhares de pessoas; pelo número de democratas mobilizados para estudarem e debaterem esses problemas; pelo número de congressistas, que se contam por milhares e ainda pelos muitos milhares de democratas que apesar de todas as dificuldades criadas pelo fascismo conseguiram deslocar-se a Aveiro para participarem nos actos públicos do Congresso, à última hora proibidos, pode dizer-se que o 3º Congresso da Oposição Democrática representou uma grande manifestação e uma grande jornada de massas.
A realização do Congresso foi, como afirmaram vários congressistas, uma conquista da Oposição Democrática e não uma concessão do regime. Aliás o fascismo, não se sentindo em condições de impedir a efectivação do Congresso, fez tudo quanto pôde para a dificultar e lhe reduzir o âmbito. As dificuldades postas à sua divulgação e propaganda e à sua preparação e organização; a proibição da romagem ao túmulo de Mário Sacramento e a proibição de todos os actos públicos, acompanhado das ameaças do costume para tentar criar um clima de medo; o encerramento do parque de campismo para impedir o acampamento aí de milhares de pessoas que pretendiam assistir à última fase do Congresso; a ocupação do parque da cidade pelas forças policiais para impedir a realização do grande piquenique de confraternização; a intercepção pelas forças da GNR e PSP de todas as vias de acesso à cidade, impedindo o direito de circulação e a chegada dos muitos milhares de democratas de todos os pontos do país que pretendiam associar-se à manifestações do Congresso, de tudo o fascismo jogou a mão para reduzir a amplitude e limitar a participação popular nesta grande realização antifascista que foi o 3º Congresso da Oposição Democrática.
Apesar de todas estas medidas, o fascismo não conseguiu quebrar o entusiasmo popular nem impedir a entrada na cidade de vários milhares de democratas que deixaram os transportes a quilómetros e quilómetros de distância e conseguiram iludir a vigilância policial para se associarem aos últimos actos do Congresso, incluindo a romagem a Mário Sacramento, violentamente reprimida pelas forças policiais.
Embora não disponhamos ainda os elementos que nos permitam fazer a devida apreciação do Congresso, as amplas discussões realizadas à volta dos seus temas por muitos milhares de democratas, discussões que incidiram sobre os mais candentes problemas da vida nacional, representou uma grande contribuição para a definição de objectivos e métodos de acção do movimento unitário e foi um importante passo para a dinamização da actividade das forças democráticas. O Congresso abriu novas perspectivas de acção antifascista, criando condições para uma mais ampla e combativa unidade no desenvolvimento de uma larga frente de luta contra o fascismo, contra a guerra colonial, pelas liberdades democráticas.