Declaração de Ângelo Alves, membro da Comissão Política do Comité Central, Conferência de Imprensa

Recordar os crimes de Hiroshima e Nagasaki, defender a paz, a cooperação e o desenvolvimento

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Os dias 6 e 9 de Agosto de 1945, datas em que os EUA lançaram a bomba atómica sobre Hiroshima e Nagazaki, provocando a morte e os mais horríveis sofrimentos de centenas de milhar de seres humanos fazendo desaparecer estas duas cidades japonesas, passaram à História como símbolo de um crime monstruoso que não deverá cair no esquecimento. A memória de tão grandes crimes e a actual situação internacional convocam as forças da paz e do progresso social a denunciar todas e quaisquer tentativas de reescrita da História e de justificação de tão ignóbil acto – que apenas visou afirmar o poderio dos EUA –, bem como a intensificar os alertas e a luta para que um tal crime jamais se repita.

Ao assinalar esta trágica efeméride o PCP, cumprindo um dever de memória para com as vítimas do holocausto nuclear de Hiroshima e Nagasaki, pretende sobretudo alertar os trabalhadores, a juventude e o povo português para a importância da luta pela paz e a cooperação; contra o militarismo e a guerra; pelo desarmamento, desde logo o desarmamento nuclear; pelo cumprimento da Carta das Nações Unidas e do Direito Internacional, e pelo respeito dos direitos dos povos, nomeadamente dos direitos à autodeterminação e à soberania.

O PCP chama a atenção para que, setenta anos depois, o perigo de holocausto nuclear, não só não está afastado, como cresceu perigosamente após o desaparecimento da União Soviética e da sua política de paz e de desarmamento. A intensificação da política agressiva e de ingerência da NATO e das suas potências, com destaque para os EUA; o aumento da corrida aos armamentos e o aperfeiçoamento dos arsenais nucleares; o reforço da aliança militar nipo-norte-americana; a instalação de sistemas anti-míssil nas fronteiras da República Popular da China; a expansão da NATO para leste e a crescente política de confrontação com a Federação Russa; a adopção de doutrinas militares, designadamente pelos EUA, que advogam abertamente a utilização “preventiva” da arma nuclear; são elementos que, a par com a instabilidade e as guerras de agressão do imperialismo em curso, concorrem para um aumento do perigo de novas tragédias como a que hoje é assinalada.

Esta é uma realidade que seria irresponsável ignorar pois ameaça povos inteiros e a própria Humanidade.

Para contrariar e inverter tão perigosa tendência, o PCP considera necessário enfrentar com firmeza a política exploradora, opressora, predadora e agressiva do imperialismo, e em primeiro lugar a estratégia agressiva dos EUA e das grandes potências da União Europeia que, a pretexto da ameaça à sua “segurança” e aos seus “interesses vitais”, e invocando hipocritamente a defesa da “democracia e dos direitos humanos” ou a “guerra ao terrorismo”, intensificam as políticas de ingerência, desestabilização e agressão militar directa por todo o mundo. Desenvolve-se o militarismo, crescem as despesas com armamento, multiplicam-se as bases militares no estrangeiro.

A resposta aos problemas migratórios criados pelas guerras do imperialismo, pelo neocolonialismo e pelo subdesenvolvimento – e que transformaram o Mediterrâneo num imenso cemitério - é cada vez mais uma resposta militarizada e repressiva, ela própria um libelo acusatório dos objectivos e natureza da política da NATO e da União Europeia.

Perante o aprofundamento da crise estrutural do capitalismo, o declínio relativo da hegemonia do imperialismo norte-americano e seus aliados no plano mundial e a agudização das contradições do sistema, os sectores mais reaccionários e agressivos do grande capital jogam cada vez mais no fascismo e na guerra como “saída” para as suas insanáveis contradições, recorrendo de forma cada vez mais perigosa às manobras de desestabilização, ao terrorismo e também à chantagem nuclear.

A luta para impedir a repetição do holocausto de Hiroshima e Nagasaki, a luta pelo desarmamento nuclear e pela paz, é inseparável da luta contra as ingerências e agressões do imperialismo que tanta destruição e sofrimento têm causado em países como o Afeganistão, o Iraque, a Líbia, a Síria ou o Iémen. Passa pelo fim do bloqueio norte-americano contra Cuba. Passa pelo fim de manobras e campanhas de desestabilização, ou, na linguagem já conhecida de outros momentos da história recente, de operações de «mudança de regime», como está acontecer na Venezuela, para tentar liquidar o processo de progresso e soberania bolivariano. Os caminhos da Paz passam pela solução pacífica de conflitos, pelo diálogo internacional respeitador da igualdade e soberania dos Estados e dos direitos dos povos. Passam pelo fim das ameaças e sanções a países como o Irão ou a RPD Coreia.

O PCP reafirma a sua posição de defesa de desnuclearização e não proliferação de armas de destruição massiva.

A insaciável gula das grandes multinacionais para se apropriarem das riquezas e mercados de todo o planeta e a escalada da tensão e confrontação militar em vários pontos do mundo pode conduzir aos mais descontrolados e trágicos desenvolvimentos. Os povos e todos aqueles que são confrontados nos dias de hoje com novas mentiras e manobras de propaganda devem reflectir sobre as lições que Hiroshima e Nagasaki nos ensinam. Hoje ao presenciarmos uma nova ofensiva dirigida pela Administração norte-americana conduzida por Trump contra vários países, deveremos recordar esse e outros acontecimentos que demonstram as reais intenções daqueles que, em nome da democracia, levam a cabo a instauração de ditaduras ou a destruição de países.

Nesse sentido, o PCP acompanha com preocupação a política de continuada submissão do Governo português às políticas da NATO e da UE que, entre outras, teve expressão recente no crescente envolvimento de Portugal em operações militares do imperialismo ou na posição em relação à Venezuela, contrária aos interesses da comunidade portuguesa e do necessário restabelecimento das condições de estabilidade política naquele país.

A Constituição da República Portuguesa, reflectindo os valores libertadores de Abril, consagra no seu artigo 7º que “Portugal preconiza a abolição do imperialismo, do colonialismo e de quaisquer outras formas de agressão, domínio e exploração nas relações entre os povos, bem como o desarmamento geral, simultâneo e controlado, a dissolução dos blocos político-militares e o estabelecimento de um sistema de segurança colectiva, com vista à criação de uma ordem internacional capaz de assegurar a paz e a justiça nas relações entre os povos.”

É obrigação do Estado e do governo português romper com a política de submissão ao imperialismo que compromete a soberania nacional. A defesa dos interesses nacionais exige a adopção de uma política externa de brio patriótico e independência nacional, na base dos princípios da igualdade, reciprocidade de vantagens, respeito mútuo e não ingerência nos assuntos internos, que pugne pelo fim da corrida aos armamentos, pelo desarmamento e em primeiro lugar o desarmamento nuclear, pela paz, a amizade e a cooperação entre os povos.

Recordando a tragédia de Hiroshima e Nagasaki, o PCP revisita o passado mas olha com confiança para o presente e para o futuro da luta emancipadora do povo português e da luta dos trabalhadores e dos povos de todo o mundo.

Alertando para os grandes perigos que o agravamento da actual situação internacional comporta, o PCP exprime a sua confiança de que a guerra não é inevitável e que a luta organizada e determinada das forças da paz e do progresso de todo o mundo imporá o desarmamento e a abolição das armas nucleares.

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