CGTP-Intersindical Nacional 30 anos de luta com os trabalhadores |
Membro do Secretariado da CGTP-IN
O dia 1 de Outubro de 1970 é a data convencionada para o nascimento
da Intersindical. Foi nesse dia, em pleno fascismo, que quatro sindicatos, em
que os trabalhadores fizeram eleger direcções da sua confiança
(Caixeiros, Lanifícios, Metalúrgicos, Bancários, de Lisboa),
enviaram um convite a um grupo de outras direcções, também
da confiança dos trabalhadores, para uma sessão de trabalho
e estudo de alguns aspectos da vida sindical cuja discussão lhes parece
da maior oportunidade.
Essa reunião realizou-se a 11 de Outubro, na sede dos Bancários,
com a presença de 13 direcções sindicais, constando da
sua ordem de trabalhos matérias que ainda hoje poderão com toda
a propriedade ser objecto de discussão em qualquer reunião sindical:
contratação colectiva; horário de trabalho; censura; liberdade
de reunião.
Os temas escolhidos para discussão encerram uma concepção
de sindicalismo que desde a 1ª hora e até hoje, são características
fundamentais das práticas sindicais da CGTP-IN: a luta pela melhoria
das condições de trabalho e pelos direitos e liberdades democráticas.
Iniciou-se assim o ciclo das reuniões intersindicais que
adquirem uma influência e capacidade de intervenção crescentes,
apesar da fúria repressiva a que estiveram sujeitas até ao 25
de Abril de 1974.
Tal capacidade atingiu um nível que permitiu ao Secretariado da Intersindical,
convocar as direcções sindicais para reunir logo no dia 26 de
Abril, reunião de onde saiu uma posição de apoio ao movimento
dos capitães, ao Programa do MFA e, também, a decisão
de comemorar o 1.º de Maio em Liberdade, que foi declarado feriado nacional
como Dia do Trabalhador, e constituiu a maior manifestação popular
jamais realizada em Portugal, sufragando na rua o apoio do povo português
ao 25 de Abril, tornando-o numa revolução.
Os antecedentes
É evidente que a emergência e estruturação da Intersindical não surgiu por acaso em 1 de Outubro de 1970. Tem raízes no sindicalismo combativo e revolucionário da 1ª República; na revolta contra a fascização dos sindicatos em 1934, que teve expressão importante na Marinha Grande; na luta clandestina e crucial dos comunistas para desenvolvimento do trabalho sindical dentro dos sindicatos corporativos onde estavam os trabalhadores; na constituição das comissões de unidade nas fábricas e de praça ou de jorna nos campos, desenvolvendo através do partido e destas formas organizativas, acção unitária reivindicativa, que com altos e baixos manteve acesa a chama do sindicalismo e da luta dos trabalhadores, luta de que um dos frutos mais belos e pujantes foi o nascimento e desenvolvimento da Intersindical, que até hoje, decorridos 30 anos, se manteve como a maior e mais prestigiada organização social portuguesa.
30 anos de percurso
Em termos históricos, 30 anos não são um período
significativo. Mas foram seguramente um período excepcionalmente rico
de experiências, luta, e vivência sindical, se considerarmos a diversidade
de situações e dos problemas enfrentados, das conquistas e transformações
realizadas, dos contextos políticos, económicos e sociais que
marcaram este período extraordinário da História de Portugal
e do Mundo.
Assistimos e participámos no processo de descolonização
e na emergência de mais de cem novos países no mundo; à
derrota do sistema socialista; ao advento da revolução científica
e técnica; à globalização neoliberal-capitalista
em curso e do pensamento único, seu suporte ideológico; ao aprofundamento
da União Europeia em que nos integrámos; ao período final
da luta antifascista em Portugal, e ao nosso formidável processo revolucionário
do 25 de Abril, que numa explosão de alegria, pôs fim à
ditadura fascista que oprimiu o povo português durante 48 anos e nos trouxe
a liberdade e a democracia.
No curto espaço de dois anos, entre 1974 e 1976, os acontecimentos políticos
e a movimentação dos trabalhadores fluíram em catadupa.
Chegavam a convocar-se greves e manifestações de um dia para o
outro, e até da manhã para a tarde.
Conquistámos, exercemos e consolidámos os direitos de greve, de
associação e organização, de reunião e manifestação;
democratizámos os sindicatos e generalizámos a eleição
de delegados sindicais e das Comissões de Trabalhadores nas empresas;
o salário mínimo nacional; o subsídio de Natal; um mês
de férias e respectivo subsídio; a redução do horário
de trabalho; o aumento do número de feriados incluindo o 1º de Maio,
dia internacional do trabalhador; a proibição dos despedimentos
sem justa causa; o subsídio de desemprego; o alargamento do direito de
reforma; saúde e educação gratuitas, tudo consagrado pela
luta, primeiro no terreno, depois em grandes contratos colectivos verticais,
depois nas leis laborais e na própria Constituição da República.
Reivindicámos e apoiámos a Reforma Agrária e as nacionalizações;
exercemos o controlo operário; gerimos as empresas abandonadas defendendo
os seus postos de trabalho e a economia nacional; combatemos a sabotagem económica
e contribuímos decisivamente para a consolidação da democracia.
A partir do I Governo Constitucional, fomos combatentes abnegados na luta contra
a recuperação capitalista e latifundista; defendemos a unidade
e combatemos o divisionismo; lutámos contra os despedimentos, os contratos
a prazo e os salários em atraso.
Mais tarde, após a ascensão da direita ao poder e a entrada de
Portugal na Comunidade Europeia, adaptámos a nossa estratégia
sindical, procurando manter um sindicalismo de classe e de massas em articulação
com a participação institucional.
Realizámos três greves gerais, defendemos a Constituição
de 1976, e combatemos os cíclicos pacotes laborais, derrotando total
ou parcialmente muitos deles.
Mais recentemente, reivindicámos e obtivemos pela luta a semana de 40
horas como horário máximo; combatemos a flexibilidade e a polivalência;
defendemos e melhorámos a contratação colectiva e contribuímos
de-cisivamente para a melhoria global das condições de vida e
trabalho dos trabalhadores e do povo português.
Estivemos à frente de todas as grandes e pequenas lutas dos trabalhadores
portugueses nestes 30 anos de vida da nossa Central.
Conquistámos desde a primeira hora o lugar cimeiro de protagonismo social
e laboral, graças à militância abnegada e solidária
de milhares de sindicalistas que assumiram a causa dos trabalhadores a que dedicaram
o melhor das suas vidas e, por isso, a CGTP-IN manteve-se até hoje nessa
honrosa posição.
A prová-lo com exuberância aí estão as inúmeras
lutas desenvolvidas já este ano, em particular a impressionante mobilização
e notável combatividade demonstradas com as manifestações
de 23 de Março em Lisboa, e de 19 de Junho no Porto, contra a precaridade
e por emprego de qualidade.
Com os 144 sindicatos, 21 uniões e 14 federações que participaram
no último congresso, representando 763 mil trabalhadores filiados, e
uma influência social e laboral que vai muito para além da sua
dimensão orgânica, a CGTP-IN mantém-se como a maior organização
social do País, a mais profunda e extensamente implantada nos locais
de trabalho, nos sectores e regiões, com forte adesão dos trabalhadores
às suas propostas e objectivos de luta e o apoio das mais variadas camadas
sociais do país.
No 1º semestre deste ano, encerrou uma campanha de fundos para a compra
da sua sede histórica, com o excelente resultado de 190 mil e 900 contos,
fruto de uma militância, solidariedade e capacidade de organização
notáveis. Também neste 1º semestre, os sindicatos da CGTP-IN,
sindicalizaram 24 mil 984 trabalhadores e elegeram 3.360 delegados sindicais,
cumprindo assim a 1ª etapa dos objectivos de mandato aprovados no 9º
Congresso para o reforço da organização de base.
As comemorações
Em Janeiro do ano dois mil, sob o belo lema: um sindicalismo de classe
para o século XXI, aprovado no 9º Congresso, realizado em
Dezembro, a direcção da CGTP-IN traçou como orientação
geral para as comemorações do 30º aniversário, a intensificação
da luta reivindicativa, o aumento da sindicalização e da eleição
de delegados sindicais, a realização de plenários nas empresas
com mais de 100 trabalhadores para discutir as propostas e organizar a acção
reivindicativa até ao fim do ano e para 2001.
Neste quadro, teve lugar no dia 30 de Setembro, na Academia Almadense, um plenário
de sindicatos com 882 dirigentes sindicais, onde no 1º ponto da ordem de
trabalhos fizeram depoimentos alusivos aos 30 anos de percurso, Armando Teixeira
da Silva, coordenador da CGTP-IN de 1977 a 1986, Kalidás Barreto e Emídio
Martins, membros da Comissão Executiva durante vários mandatos,
Manuela Medeiros, dirigente sindical açoriana e ex-membro do Conselho
Nacional, eu próprio, membro da actual Comissão Executiva e Secretariado,
e Maria Emília de Sousa, Presidente da Câmara Municipal de Almada
que, em nome da Câmara, deu as boas vindas aos participantes no plenário.
A segunda parte do plenário iniciou-se com uma intervenção
de Ma-nuel Carvalho da Silva, Secretário Geral da CGTP-IN, sobre a política
reivindicativa para 2001, seguida de debate e conclusões para a acção.
À noite, realizou-se um jantar de confraternização nas
instalações do Inatel na Costa da Caparica, com a presença
dos dirigentes que estiveram no plenário, a que se juntaram cerca de
200 personalidades da vida política e social portuguesa, incluindo ex-dirigentes
sindicais da central, e em que participou também o Sr. Presidente da
República Dr. Jorge Sampaio, num total de mais de mil e cem participantes.
A validade do sindicalismo hoje
A acção concreta e bem visível dos sindicatos hoje, as reivindicações e anseios dos trabalhadores em torno do direito ao trabalho e a um salário justo; da redução e organização do horário de trabalho; da protecção social em geral e em particular no desemprego, na doença e na velhice; a dignificação do trabalho e da profissão; a solidariedade e a entre-ajuda dos trabalhadores e entre estes e as camadas mais desfavorecidas; a luta pela justiça e pela transformação social; o combate à discriminação, à exploração e à opressão; a concentração da riqueza produzida por todos num número cada vez mais reduzido de mãos e a crescente desigualdade na sua distribuição, validam e fundamentam, dia a dia, a importância dos sindicatos como expressão de solidariedade e de acção organizada dos trabalhadores, o papel determinante que têm hoje, e inevitavelmente continuarão a ter amanhã para que o futuro da humanidade se construa na senda da paz, da liberdade, da democracia, do progresso e da justiça social
«O Militante» - Nš 249 - Novembro/Dezembro 2000