Perguntas e Respostas

14. A moeda única vai permitir à Europa opor-se à hegemonia do dólar?


É certamente o principal desígnio de alguns, com a ideia de que um «marco Europeu» (o Euro) com a dimensão e a força de uma moeda de um espaço económico alargado (dos «Estados Unidos da Europa») poderá rivalizar com o dólar (e o iene) nas transacções comerciais internacionais, nos jogos e praças financeiras, como moeda de referência mundial. Assim serão ajudados os negócios do grande capital transnacional.

A intenção é sedutora porque os povos de todo o mundo são penalizados por causa do actual funcionamento das relações monetárias internacionais dominadas pelo dólar. Relações monetárias em que o dólar é a moeda de referência e está sujeito a uma gestão pela Reserva Federal dos EUA (Banco Central dos Estados Unidos), conforme os interesses do imperialismo americano.

Desde o início dos anos 70 que o sistema é sacudido pelo movimento do iô-iô do dólar. A nota verde que está hoje a cerca 160$00/170$00 valia o dobro em moedas Europeias dos anos 80. Os efeitos desta flutuação monetária são temidos pelas economias pois, no essencial, as matérias-primas, entre as quais se destaca o petróleo, e uma boa parte dos produtos industriais são facturados em dólares. A baixa (do câmbio) do dólar facilita a invasão (conquista de mercados) por produção USA (que fica mais barata) dos mercados Europeu e japonês e ajuda à emigração de capitais Europeus e japoneses para os Estados Unidos para a aquisição de empresas (que ficaram também com preços mais baixos). Por outro lado, o empolamento fantástico dos movimentos financeiros liga-se também em grande parte à «inflação» dos dólares (os dólares e os Eurodólares sem ouro no Forte Knox!)! A que se acrescenta o conhecido «fenómeno» dos ganhos de «senhoriagem», sublinhado pelo Relatório da Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa que vimos citando «a emissão de notas pelos bancos centrais dos governos cujas moedas têm uma importância mundial, representa para estes últimos uma fonte certa de rendimentos. A Reserva Federal dos Estados Unidos encaixa desta maneira milhares de milhões de dólares todos os anos».

É uma ilusão pensar que o Euro vai ter um papel favorável às economias Europeias mais débeis. A ilusão que decorre de julgar-se que o que é bom para o marco é bom para o escudo.

O Euro que favorecerá a hegemonia dos capitais financeiros, nomeadamente alemães, não fará desaparecer o dólar e o iene. As reservas em divisas do Banco Central Europeu (quando se der a substituição das moedas nacionais pelo Euro) serão no essencial constituídas por ouro... e dólares.

E grande parte das transacções económicas internacionais como referidas acima, continuar-se-á a fazer em dólares e ienes.

O Euro acentuará a rivalidade entre as moedas das três grandes potências que dominam a tríade (EUA, Japão, Alemanha/UE) e com ela a especulação sobre os mercados de câmbio do planeta contra os interesses dos povos. E como a moeda única terá uma base muito menos homogénea (política e económica), ela será objecto de ataques contínuos no quadro daquela rivalidade por parte dos especuladores internacionais.

O Euro vai relançar a guerra que os grandes capitais Europeus travam entre si e impulsionar as alianças que tecem com os grupos USA (ou japoneses) pelo controlo do mercado único, à imagem do que se passa actualmente nas telecomunicações, onde as grandes empresas Europeias se aliam separadamente aos grupos americanos para se degladiarem entre elas. (ver nota...)

O Euro é, em primeiro lugar, uma arma para a guerra económica. Ora, não é tentando dominar em lugar do dólar que se poderão construir relações monetárias estáveis e úteis aos povos. O Euro por trás do qual se perfilam ambições de domínio (imperialista) na guerra económica mundial, não constituirá em caso algum uma contribuição para uma reforma positiva do sistema monetário internacional, a favor dos povos, e contra todas as formas de hegemonia monetária.

 

«(...) Com o estabelecimento do alinhamento estratégico da Portugal Telecom, através da sua integração no consórcio Concert — representado pela British Telecom e pelos norte-americanos da MCI — e o acordo de colaboração integral entre a Portugal Telecom e a Telefónica de Espanha, o mercado português prepara-se para enfrentar a liberalização.»

(...)
«As grande alianças
Hoje em dia existem seis alianças mundiais que merecem especial referência:
A WorldPartners, liderada pela AT&T e integrando a KDD e a Singapore Telecom.

A Uniworld, que foi fundada pela AT&T, a PT e a Telefónica.

A Global One, que nasceu da "joint-venture" entre a Atlas (France Telecom e Deutsche Telekom) e o terceiro operador norte-americano de longa distância, a Sprint.

A Unisource, que integra a PTT Telecom Netherlands, a sueca Telia e a Swiss Telecom PTT. A Telefónica abandonou a semana passada este consórcio para integrar a Concert.»

Tiago Franco, Cyberdinheiro — Independente — 24 de Abril de 1997

«Um Euro mais forte, cuja voz será mais poderosa na economia mundial que o coro das moedas actualmente em curso (...) poderá depreciar-se ligeiramente e ser assim uma vantagem para a região em termos de exportação, seguindo nisto o exemplo do dólar e, em certa medida, do iene». (...) «Pois que hoje a depreciação monetária não parece acarretar tanto como anteriormente um impulso à inflação, uma tal estratégia pode ser compensadora, pelo menos até um certo ponto. Mas poder-se-á, pelo contrário, assistir ao início de uma corrida à depreciação entre o Euro, o dólar e o iene e, talvez, de outras moedas».

Relatório da Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa — 13 de Dezembro de 1996

«Este conjunto de actividades em que os custos do factor trabalho determinam vantagens comparativas são afectados na sua capacidade competitiva pela integração de Portugal numa zona com moeda forte, efeito que se vem sentido, aliás, desde que o escudo passou a participar no Mecanismo Europeu de Taxas de Câmbio.

Os principais concorrentes destas actividades encontram-se numa grande variedade de países terceiros em vias de desenvolvimento com os quais a União Europeia tem celebrado acordos recentemente. Muitos desses países seguem políticas cambiais que têm por referência o dólar e definem preços nesta moeda. Por isso a relação entre o Euro e o dólar será relevante para a relação competitiva que venha a estabelecer-se.»

Maria José Constâncio, economista — Anuário da Economia Portuguesa1996

«(...) Nós fazemos produtos mas também precisamos de os vender. E já não temos mercado interior suficiente. Cada um de nós tem já dois ou três pares de sapatos, televisões, carros, etc. Se as moedas competitivas são o dólar e o iene e nós apresentamo-nos com pesetas, liras ou dracmas, não vamos a parte alguma.»

Emma Bonino, comissária Europeia das Pescas — Diário de Notícias — 4 de Novembro de 1996