Perguntas
e Respostas
7. A moeda única vai limitar/acabar com
a especulação monetária e financeira?
Vai permitir uma moeda estável, o EURO?
É pouco credível que tal aconteça. Comparando com o marco, a base económica da nova moeda (Euro) é mais frágil, dado assentar num conjunto de economias com diversidades e assimetrias acentuadas. Economias como as dos países do Sul (Itália, Espanha e Portugal) que, sendo bastante diferenciadas, apresentam debilidades conhecidas, e cuja sustentabilidade dos critérios de convergência levanta fundadas dúvidas. Por outro lado, o facto de um conjunto de países da actual Comunidade Europeia não substituírem a moeda nacional pelo Euro, vai intensificar os jogos especulativos entre as moedas desses países e o Euro, à medida que se aproximar a data da entrada em curso da moeda única. Situação que tenderá a prolongar-se mesmo depois dessa data. As próprias moedas de países de economias mais frágeis (caso de Portugal) e que pretendem integrar desde o início o primeiro grupo dos países, vão ser sujeitas a grandes pressões dos mercados financeiros durante os períodos anteriores e posteriores à criação da moeda única.
Era paradoxal que os patrões dos mercados financeiros (os chamados investidores institucionais, os grupos dos fundos de pensões e de investimento, Soros e cia.) que comandam a filosofia neoliberal e monetarista que preside à «construção» Europeia de Maastricht, da UEM e da moeda única, que garantiram a «independência» dos bancos centrais e do Banco Central Europeu, arranjassem uma moeda única para matar uma das suas galinhas de ovos de ouro: a instabilidade monetária! Instabilidade, em nome da qual se vai continuar a puxar parar cima as taxas de juro para maior glória de um Euro forte e estável, para maiores benefícios dos mercados financeiros.
Um dos objectivos confessados da moeda única, é estimular as praças financeiras, o mercado financeiro, ou seja, a especulação na Europa: com a rivalidade entre a City londrina, as praças de Frankfurt e outras alemãs, Paris, e também para levar a guerra às praças de Tóquio ou de Nova Iorque.
As medidas para travar/limitar a instabilidade monetária, e o seu corolário lógico, a especulação, são conhecidas e não passam pela moeda única: Exigem como questão nuclear o controlo da circulação dos capitais financeiros! Várias soluções são apontadas por estudiosos desta questão:
Impor uma carga fiscal à especulação e aos movimentos cambiais: o economista americano, prémio Nobel James Tobin, propõe uma taxa fiscal de 0,5% sobre todos os movimentos de câmbio (1,25 biliões de dólares por dia); outros economistas avançam com a proposta de um mecanismo de depósitos prévios, não remunerados, em moeda nacional junto do Banco Central, que seria imposto em todas as compras de divisas feitas em situação de crise por toda a instituição financeira residente, quer por sua conta quer por conta da sua clientela;
desenvolver uma intervenção política e económica que ponha fim aos chamados «paraísos fiscais»;
controlar os «preços de transferência» e os fluxos financeiros entre as empresas localizadas em diversos países, dos grupos multinacionais;
promover uma cooperação monetária entre os diversos países Europeus partindo do Ecu como uma moeda comum e o recurso aos fundos estruturais que devem ser reforçados, a fim de salvaguardar o emprego, a coesão económica e social, e defender os sistemas produtivos dos diversos países e a convergência real das economias.
«(...) nada pode
garantir que as pressões sobre as divisas candidatas,
durante o período transitório, não se tornam
insuportáveis nem, aliás, que um Euro acabado de nascer
não será, ele também, submetido ao mesmo tipo de
tratamento (...)». «(...) a estabilidade do Euro face ao dólar e ao iene supõe em primeiro lugar que estas duas divisas permanecem estáveis uma em relação à outra. Ora, isto raramente aconteceu no decurso dos últimos anos. E assim, na medida em que o dólar e o iene continuam a flutuar um em relação ao outro, o Euro flutuará forçosamente em relação a um e a outro». Relatório da Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa 13 de Dezembro de 1996 |
«Os governos como o da Alemanha e
o da França que prometem o advento do paraíso na terra
graças ao Euro, estão a mentir a si próprios ou mentem
aos seus eleitores. Com o Euro, a crise virá, mais
precisamente, ela agravar-se-á. Os grandes tubarões
devorarão os pequenos peixes. Mas, sobretudo: os
milhares que foram investidos nas velhas moedas sólidas
não se deixarão trocar sem reagir a um Euro ainda
noviço e com cursos totalmente desconhecidos.
Eles mudarão antes de país e de moeda e
esperarão para ver entretanto o que se passa. Somente,
ela significa que o Euro será introduzido e cunhado a
taxas de juro muito mais elevadas que as taxas actuais.
Teremos a escalada das taxas e tempestades monetárias
graves, exactamente aquilo que queríamos evitar com a
criação do Euro sem falar dos efeitos reais que
provocarão estes choques monetários e bolsistas sobre a
conjuntura, o emprego e as finanças públicas.» Wilhelm Hankel, professor de Economia Política na Universidade de Frankfurt, Géopolitique, n.o 53 |