Perguntas
e Respostas
6. As empresas e os consumidores vão
beneficiar com a moeda única?
Não é por acaso que o Argumentário propagandístico da moeda única fabricado por Bruxelas dirige as suas mensagens aos consumidores, às empresas e aos agricultores.
Mas quando falam dos agricultores «esquecem-se» das diferentes «agriculturas» existentes na Comunidade. «Esquecem-se» que, por exemplo, Portugal importa 2/3 das suas necessidades alimentares agrícolas. Isto é, se o Euro pode facilitar as exportações agrícolas dos holandeses e franceses, isso significará novas dificuldades para os agricultores portugueses, sem qualquer capacidade de competir no mercado agrícola comunitário, excepto num número muito reduzido de produtos agro-pecuários.
Acenam novamente às empresas e empresários com grandes facilidades e vantagens na exportação. Devem alguns mais esquecidos recordar quem, em vésperas de adesão à CEE, lhes falava das «novas oportunidades de um mercado de 300 milhões de habitantes» e, passados uns anos, lhes está a propor como estratégia exportadora as «franjas» do mercado comunitário! Mas a ilusão mais grave que propagandeiam (não por ignorância) é confundir o universo das empresas com as empresas exportadoras. Como se a partir da moeda única todas as empresas portuguesas passassem a produzir para o mercado comunitário.
Uma coisa que o Argumentário não diz é quem vai pagar os custos da transição monetária. A mudança de moeda trará custos significativos, sobretudo para o sistema financeiro (banca) e para todas as empresas e, entre estas, para empresas de comércio e serviços de retalho: duas contabilidades, novo software, dupla afixação de preços, etc.. Suspeita-se que sejam as pequenas e médias empresas e os consumidores a pagar o grosso da factura: um recente parecer do CES defende que seja «o mercado» a decidir quem vai pagar...
Aos consumidores, acenam-lhes com uma baixa de preços: «Com o Euro as suas compras tornar-se-ão menos caras», pois «muitos produtos que você consome quotidianamente franqueiam fronteiras nacionais antes que os possa comprar no seu país», e a conversão (câmbio) de moedas tem um custo que deixa de haver com a moeda única. Como referimos anteriormente, é pouco credível que a diminuição dos custos dos produtos importados, resultante do fim das transacções cambiais, vá traduzir-se em redução de preços no consumo.
Outro factor, segundo o Argumentário, a impulsionar a baixa de preços é a concorrência acrescida facilitada pelo Euro que «permitirá verdadeiramente comparar os preços à escala do continente».
O «pequeno problema» que o Argumentário Euro «esquece» é que a generalidade dos cidadãos, para acederem à categoria de «consumidores», precisam de começar por ter um trabalho, precisam de ter a garantia de que esse trabalho tem continuidade (e não é uma mera ocupação temporária, precária), e ainda que a esse trabalho corresponde um salário suficiente, que ultrapasse o nível mínimo da simples sobrevivência. Ora, a moeda única garante tudo menos isso. Ou antes, a moeda única para os portugueses é a perspectiva de menos postos de trabalho, mais trabalho precário e a continuação de salários baixos. Isto é, com o Euro os portugueses «consumidores» terão uma ainda maior quantidade de produtos importados, restando saber se os portugueses «trabalhadores» terão rendimentos para continuarem «consumidores», e assim «beneficiar da diversidade de produtos dos nossos vizinhos»! (do Argumentário)
Não é por acaso que o Argumentário não apresenta nenhuma mensagem específica dirigida aos trabalhadores, a todos os que têm como principal fonte de rendimento um salário ou uma pensão, porque sabe que nesta matéria o que tem a dizer não é agradável, e que no melhor dos casos se traduz por «contenção»! São exemplos as seguintes pérolas: «se a evolução dos salários se mantém compatível com o objectivo da inflação e a preservação da rentabilidade do investimento»; «a continuação de uma política salarial adequada (sublinhado do Argumentário) pelos parceiros sociais, que respeite o objectivo da estabilidade dos preços (...), não trave o investimento, (...)»!
O que significa que vai acentuar-se a prevalência dos lucros sobre os salários, os interesses do capital sobre os do trabalho.
«Euro, a
quanto obrigas (...) As previsões da FBE, que consultou cerca de cem bancos Europeus, indicam que a adopção do Euro obrigará o sistema financeiro comunitário a despender um montante mínimo de 1,5 a 2 mil milhões de contos. As alterações tecnológicas absorverão 54% deste total, enquanto o marketing, a comunicação e as relações públicas serão responsáveis por cerca de 15% dos custos calculados. A formação profissional absorverá 10% daquele montante.» João Paulo Vieira, Revista Visão 31 de Outubro de 1996 |
«Os prémios dos seguros poderão
vir a aumentar nos próximos anos, para suportar os
elevados custos das companhias, resultantes da adopção
da moeda única, afirmou o presidente da Associação
Portuguesa de Seguros (APS). Ruy de Carvalho adiantou que
estes custos "poderão ser muito elevados" e
vão surgir "desde já", enquanto os
benefícios decorrentes da circulação do Euro só se
vão sentir a médio prazo. "Alguém vai ter de suportar este investimento e, o mais provável, é virem a ser repartidos pelos clientes com um aumento do preço das apólices pelos accionistas através de aumentos de capital e pelas próprias seguradoras, se estas tiverem recursos para isso", adianta.» Ruy de Carvalho, presidente da Associação Portuguesa de Seguros Correio da Manhã 23 de Janeiro de 1997 |
«(...) Quem paga a factura? O Euro
terá o seu custo, que todos (consumidores e empresas)
iremos suportar. Só que alguns (leia-se as empresas)
também irão ganhar mais com a moeda única. Como é
usual nestas coisas, as empresas vão queixar-se dos
custos e "esquecer" as vantagens da
introdução do Euro. Na esperança de que a factura seja
remetida ao consumidor.» Dinheiro & Direitos Março de 1997 |
(...) As vantagens da redução de custos nas transacções poderão significar no máximo dois pontos percentuais sobre o valor de venda das mercadorias e serviços, sendo, pois, muito mais reduzidas que as provocadas pelo desarmamento aduaneiro que teve lugar durante o período transitório da adesão de Portugal à CEE. (...) (...) (...) (...) (...) Maria José Constâncio, economista Anuário da Economia Portuguesa 1996 |
«Penso que no caso das seguradoras
não vamos atingir o nível de custo previsto para os
bancos, porque julgo que os ajustamentos são menos
sofisticados. No caso da Império estamos a contar gastar
três ou quatro milhões de contos.» Jaime de Almeida, Presidente da Comissão Executiva da Companhia de Seguros Império Semanário 8 de Março de 1997 |
«Os representantes do sector
bancário Europeu franceses, alemães e
associações de caixas de crédito Europeias
querem que os consumidores paguem uma parte dos custos
inerentes à preparação da moeda única. Segundo Claude
Beaurin, da Associação Francesa de Bancos, "o
consumidor deverá pagar uma fatia dos custos", no
que foi secundado por Wilhelm Kiehoff, da Federação dos
Bancos Alemães e por Hans Pfistgerer, do Grupo das
Caixas de Créditos Europeias.» Claude Beaurin, da Associação Francesa de Bancos; Wilhelm Kiehoff, da Federação dos Bancos Alemães; e Hans Pfistgerer, do Grupo das Caixas de Créditos Europeias Diário Económico 3 de Março de 1997 |
«(...) Os custos da passagem à
moeda única devem ser suportados e repartidos segundo as
regras do mercado, sem intervenções que não sejam
realmente necessárias.» Parecer sobre o «Livro verde sobre as modalidades de passagem à moeda única», do Comité Económico e Social |
«O comércio não fica alheio às
despesas impostas pela mudança. Segundo Tamames,
calcula-se que os ajustamentos poderão chegar a 21 mil
milhões de Euros no período 1999-2001. Resta saber quem
paga, uma vez que as margens, já de si estreitas, não
podem ser ainda mais esmagadas nem é previsível um
aumento dos preços, que iria ter efeitos inflacionistas.
Diz Tamames que o Estado logo os contribuintes
irão pagar a factura.» Ramón Tamames, catedrático espanhol Trabalho sobre «União Monetária Europeia: Euro, sector financeiro e desenvolvimento económico», Expresso 28 de Março de 1997 |
«A moeda única tem custos
antecipados e certos, outros ocultos que vão cair sobre
as pequenas e médias empresas (PME) e benefícios
diferidos e voláteis.» Godinho de Almeida, (quadro da terceira maior produtora mundial de máquinas domésticas de café expresso, a empresa nacional Briel), 17 de Maio de 1996 Público |