Perguntas
e Respostas
5. A moeda única vai permitir que
os portugueses tenham salários e pensões
iguais aos de outros países Europeus?
É certamente a maior ilusão que se pode criar na cabeça dos portugueses, mas que é animada pela perspectiva de entrarmos no «paraíso económico» (mesmo que depois da passagem pelo purgatório) com a adesão à moeda única, segundo os seus advogados. Paraíso que só o trabalho dos portugueses e uma adequada política económica permitirão atingir. É uma ilusão do tamanho da que foi vendida aquando da adesão de Portugal à CEE, em 1986!
De facto, os salários e as pensões dos portugueses, mesmo se expressos em Euros, continuarão a valer 1/2, 1/3, 1/5 do valor dos salários e pensões dos espanhóis, dos alemães, dos franceses, etc. (Supondo 1 Euro = 200 escudos, se hoje ganho 100 mil escudos passarei, com a moeda única, a ganhar exactamente o mesmo, só que agora expressos em Euros, 100000 : 200 = 500 Euros).
Mas como haverá que forçar a competitividade das empresas portuguesas e suscitar um estreito controlo das despesas orçamentais, no quadro da perda de comando dos instrumentos económicos (taxa de câmbio, taxa de juro, etc.) a tendência será para comprimir os custos salariais, cortar nas despesas sociais (segurança social, saúde, educação) e reduzir os postos de trabalho. Isto é: os salários e pensões dos portugueses não vão aproximar-se dos valores pagos nos outros países da União Europeia.
É muito difícil prever o que vai acontecer à generalidade dos preços dos produtos e serviços em que os portugueses consomem os seus rendimentos (salários, pensões, resultados de uma exploração agrícola, de uma pequena empresa familiar, ou dos juros das suas poupanças).
É pouco credível que a diminuição dos custos dos produtos importados, resultante do fim das transacções cambiais, vá traduzir-se em redução generalizada de preços no consumo, como pretende o Argumentário Euro. Muitos exemplos são conhecidos (redução do IVA, redução de preços no produtor agrícola, etc.) em que a diminuição dos custos de produção ou comercialização de bens e serviços não tem qualquer impacto sobre os preços ao consumidor! Esses diferenciais de custos são, em geral, absorvidos pelas estruturas comerciais.
Mas haverá produtos, e em particular os alimentares, cujo preço poderá baixar por motivo de uma maior invasão do mercado nacional por produção comunitária importada.
É evidente que isso, a acontecer, significará a aceleração da destruição do tecido agrícola e industrial do País, como já hoje sucede. Haverá produtos cujo preço, uma vez liquidada a concorrência interna, começará a subir para os níveis mais elevados praticados nos outros países comunitários. Haverá bens e serviços (os chamados não transaccionáveis), cujos preços, porque em grande medida determinados pelo valor da mão-de-obra portuguesa, poder-se-ão manter por períodos mais ou menos longos, ao nível actual. Muitos preços poderão ser altamente influenciados pelo valor da taxa de câmbio do escudo quando se der a ancoragem definitiva da moeda nacional ao Euro. Mas não será de estranhar que, apesar de movimentos complexos e contraditórios, se assista a uma subida geral de preços, à semelhança do que aconteceu na ex-RDA. Um facto que certamente vai empurrar os preços serão os arredondamentos para mais que deverão ser feitos, decorrentes da menor moeda, submúltiplo do Euro, ser igual a cerca de dois escudos (considerando que o Euro terá um valor equivalente e aproximado ao do Ecu hoje). (Por exemplo, o produto que na altura da transição para a moeda única custar 10$50, irá ser arredondado para 12$00, o valor por excesso mais próximo susceptível de ser expresso em Euros: 6 cêntimos do Euro!, pois é pouco credível que os agentes económicos façam o arredondamento por defeito: 10$00, igual a 5 cêntimos do Euro!
Tendo o nível de consumo mais baixo da Europa e em retrocesso desde 1993, segundo um estudo do Eurostat (resultado do aperto na massa salarial e nos níveis de consumo privado determinados pelo cumprimento dos critérios de convergência e pela recessão económica que os acompanha) e um padrão de consumo afunilado na aquisição dos bens alimentares e tabaco (onde se gasta cerca de 30% do rendimento) é de complexa previsão o futuro poder de compra dos portugueses.
Uma coisa é certa: não haverá convergência com o poder de compra dos restantes cidadãos da comunidade.
«Dentro de cinco
anos, Portugal será um País completamente diferente e
melhor para todos», (...) tudo o que é obsoleto na
nossa indústria e agricultura terá de desaparecer, para
dar lugar ao que é novo e dinâmico». Mário Soares nos jornais portugueses de 30 de Março de 1985! |
«Os sacrifícios que
há a fazer, aqui e ali, em matéria de salário nominal,
como única forma de assegurar a manutenção de empresas
antes viabilizadas pela desvalorização cambial. Daniel Bessa, ex-ministro da Economia Público 10 de Outubro de 1996 |
«Por muito que a política
industrial portuguesa estimule a criação de vantagens
comparativas dinâmicas (é esse o bom sentido da
política industrial) as diferenças de salários
continuarão ainda por muitos anos a constituir a base
das vantagens comparativas de largos sectores de
actividade, desde o vestuário e calçado até ao
turismo, passando pela indústria automóvel.» Maria José Constâncio, economista Anuário da Economia Portuguesa 1996 |