Nota do
Director
Joaquim
Miranda
O presente número da Revista «Portugal e a CE» tem um objectivo específico: dar um contributo para um esclarecimento que queremos amplo e aprofundado sobre o significado global e as repercussões em Portugal da caminhada para a União Económica e Monetária e para a moeda única.
Trata-se, ao fim e ao cabo, de um complemento à Campanha a que o PCP meteu ombros sobre o mesmo tema, rompendo com os dogmas do «pensamento único». Face à ausência de um debate e de uma informação isenta, rigorosa e plural sobre a matéria, persistem, naturalmente, dúvidas e interrogações.
Queremos, por isso, dar mais uma achega para um melhor e maior conhecimento do assunto e, consequentemente para que sobre ele se forme uma opinião mais abalizada.
A relevância e a gravidade do assunto deveriam determinar que sobre ele ocorresse um alargado debate nacional.
Tal não acontece porque nisso não estão interessados outros partidos, nomeadamente o partido do Governo. Bastam-se com a propaganda oficial da União Europeia, da qual se vêm transformando em meros porta-vozes no plano interno, apesar das particulares incidências que da UEM decorrem para o País.
Como não estão interessados em que sejam os portugueses, uma vez efectuado esse debate, a pronunciar-se sobre a adesão ou não do País ao projecto do Euro. Por isso insistem em recusar o referendo que vimos propondo.
Pela nossa parte não desistimos.
Não desistimos de sublinhar o alcance e a gravidade da questão; como não desistimos de reclamar a necessidade de dar a voz aos portugueses.
Até porque estamos cada vez mais convictos de que a razão está do nosso lado.
Com efeito, é indiscutivelmente crescente, no País, o número dos que partilham as nossas opiniões, preocupações e reclamações.
Mas também o que vai ocorrendo noutros países reforça as nossas convicções.
A importância e o distanciamento que no Reino Unido a grande maioria dos cidadãos vem afirmando relativamente ao Euro, independentemente do quadrante político em que se situem; o recurso a uma jogada eleitoral sem precedentes na França, por parte da direita, como único recurso para impor medidas restritivas que assegurem a entrada do país no Euro; a instabilidade política e social (particularmente esta) na Alemanha, onde o desemprego atinge o número recorde de quase cinco milhões de trabalhadores; a crise de sociedade que se vive na Bélgica, particularmente acentuada com a decisão de encerramento da fábrica da Renault; a praticamente segura não adesão da Suécia ao Euro; tais são factos que não podem mais ser ocultados e que bem revelam a natureza e as incidências de uma opção marcadamente neoliberal.
E porque há outros e melhores caminhos para Portugal e para a Europa recusamos este que nos querem impor.