Intervenção produzida na Abertura dos trabalhos do XV Congresso do PCP
Camaradas:
Culminando um amplo debate preparatório
em que os militantes e organizações do Partido foram
chamados não apenas a eleger os delegados que aqui os representam
mas a intervirem directamente com a sua opinião, a sua
experiência e a sua reflexão para a definição
das análises, orientações e propostas a apresentar
ao órgão supremo do nosso Partido, o XV Congresso
constitui simultaneamente um grande acontecimento da vida e funcionamento
democráticos do PCP e um importante acontecimento da vida
política nacional.
É possível ou é
provável que o nosso Congresso não venha a ter os
ingredientes que fazem a felicidade e a excitação
dos que, consciente ou inconscientemente, pretendem reduzir a
vida política, o debate político e a luta política
a um desgostante e cansativo carrocel de encenações,
frases assassinas, ambições pessoais, truques, artifícios
e cortinas de fumo.
Mas estamos certos que no XV Congresso
do PCP, num clima de inquestionável liberdade de opinião,
não faltarão a seriedade, a ligação
aos reais problemas do povo e do país, o apelo à
participação e intervenção dos cidadãos
e a afirmação prioritária de valores e convicções
que sustentam a nossa distinta visão da política,
que sustentam a nossa forma diferenciada de estar na vida política,
que sustentam a nossa sólida concepção da
política como uma das mais nobres e elevadas expressões
da actividade humana.
Pelas indicações colhidas
no debate preparatório, julgamos poder afirmar que, no
XV Congresso do seu partido, os comunistas portugueses não
vêm nem revisitar a simples passagem do tempo nem celebrar
uma mera sobrevivência.
Vêm examinar e debater, com inteira
liberdade e na base de um indispensável espírito
crítico, quatro anos de intensa actividade e luta do seu
partido, de uma actividade e de uma luta que pesaram na marcha
dos acontecimentos e na evolução da vida nacional
e que confirmaram o PCP como uma grande força da democracia
portuguesa.
Mas vêm sobretudo para dotar o
seu partido das orientações que lhe permitam enfrentar
com êxito os grandes desafios dos próximos anos e
para marcar a ambição e rasgar audaciosamente
a perspectiva de um PCP mais forte como primeira e essencial condição
para a conquista de um novo rumo para Portugal.
Com a inabalável convicção
de que Portugal precisa de um Partido Comunista Português
corajoso, vertical e insubmisso diante das injustiças,
de um Partido Comunista Português empenhado em projectar
os grandes valores da esquerda na obra colectiva da construção
de uma vida melhor para todos os portugueses, de um Partido Comunista
Português aberto para a vida e voltado para o futuro.
Com um legítimo orgulho no património
de 75 anos de vida e de luta do nosso Partido e com uma profunda
confiança na actualidade e modernidade dos nossos ideais
e do nosso projecto de democracia e socialismo para Portugal.
Com uma profunda confiança de
que queremos e podemos crescer e avançar, não porque
isso esteja escrito nas linhas do destino mas porque dispomos
das ideias, das raízes populares e nacionais, das energias,
da capacidade de trabalho e de inovação, da fraternidade
e solidariedade comunistas que podem sustentar um assinalável
reforço do papel e influência do PCP na sociedade
portuguesa.
Para bem dos trabalhadores e do povo,
para bem da democracia, para bem do progresso e futuro da nossa
pátria.
Camaradas e amigos:
Vivemos num mundo em que se verificam
fulgurantes conquistas da ciência e da técnica que
permitiriam melhorar significativamente a vida das populações,
superar grandes flagelos que atingem a maioria da humanidade e
satisfazer as suas necessidades básicas.
Em vez disso assistimos a uma fantástica
concentração da riqueza a nível planetário
e a nível de cada país, a par da pobreza mais descalça
a que estão condenados milhões de seres humanos.
Aqueles que proclamaram o «capitalismo
triunfante», o «fim da história», a «morte
do comunismo», o «fim das ideologias» e das nações
e uma «ordem mundial» de paz e prosperidade, aí
têm o desmentido nos factos quotidianos, na multiplicação
dos conflitos armados, nas intervenções militares
ao estilo colonial, no reforço dos blocos militares e da
Nato, na mistura explosiva de paixões nacionais e religiosas,
nas manifestações obscurantistas e retrógradas,
nos movimentos fascistas, nas desigualdades gritantes, no aumento
do fosso entre o «Norte e o Sul». E também nas
grandes lutas, intervenções e manifestações
dos trabalhadores e dos povos.
Aqueles que proclamaram mais justiça
social aí têm a acentuação das desigualdades
sociais mesmo nos países mais desenvolvidos com a opulência
a conviver lado a lado com o desemprego massivo, com os ghettos
e os apartheid sociais.
O progresso científico que permite
produzir cada vez mais bens e serviços em menos tempo,
não se tem traduzido, como seria possível, na melhoria
global da vida das populações, na redução
do tempo de trabalho. Esta redução se se verificasse
de forma generalizada criaria aquilo a que alguns designam por
uma civilização de tempos livres em que o ser humano
poderia dedicar mais tempo à formação, à
educação, à cultura e ao turismo, criando
inclusivamente, por esta via, mais empregos. Infelizmente o que
se assiste é à intensificação da exploração,
da acumulação, da concentração e centralização
de capitais.
Por isso, o progresso científico
e técnico tem vindo a ser acompanhado pelo aumento do desemprego
que é também impulsionado pela corrida às
privatizações, pela liberalização
e desregulamentação dos movimentos de capitais e
pelas políticas assentes nos dogmas do catecismo neoliberal.
Na nova correlação de
forças a nível mundial, a ofensiva contra os salários,
os direitos dos trabalhadores e a segurança social, ganhou
um novo fôlego. A guerra ideológica contra o sector
público, a apologia da resignação e da total
submissão aos mercados - leia-se capital financeiro - como
entidades míticas e «sagradas», procuram expandir
e consolidar a retórica e a prática do sistema dominante:
«Estado mínimo», produtividade à custa
da redução dos salários, desregulamentação,
flexibilidade, trabalho sem direitos, privatização
de tudo o que é rentável.
E esta ofensiva apoiada por poderosos
meios, e por poderosas instituições internacionais
(FMI, BM, OMC, OCDE,...), repetida, copiada e reproduzida, em
conferências, seminários, cursos universitários
e difundida em grandes meios de comunicação social,
pretende fazer crer que não há alternativa, apresentando-se
como um verdadeiro «Pensamento Único».
É a pretensão ilusória
de consolidar e tornar perene o capitalismo e a sua hegemonia.
No mesmo sentido procura-se difundir
duas ideias:
1ª
Que com a globalização e com a crescente
internacionalização dos processos produtivos, os
Estados e os espaços nacionais deixaram de contar, que
são impotentes face às trasnacionais que passam
por cima das suas fronteiras e que a única maneira de lhes
fazer frente é através de instituições
supranacionais.
Não se nega as limitações
hoje impostas aos Estados, nem se menospreza a importância
que poderão vir a ter certas instâncias internacionais,
mas a verdade é que na actual correlação
de forças elas são dominadas pelo capital transnacional,
pelas grandes potências. São instituições
distantes dos povos, sem controlo democrático efectivo,
como acontece com a Comissão e o Conselho na União
Europeia e que actuam e intervêm não no sentido da
cooperação e da coesão económica e
social, mas no sentido dos interesses do capital financeiro. Os
processos de internacionalização e integração
e a globalização são processos objectivos,
mas tal realidade não torna obsoleta a importância
do espaço nacional como terreno essencial de resistência
e de avanços e conquistas democráticas ao nível
de cada país e ao nível de diversos países.
2ª. Que
com a globalização e com a concorrência
mundial só ganha quem desmantelar, flexibilizar ou desregulamentar,
ou seja, quem mais diminuir os custos do trabalho e os direitos
dos trabalhadores, quem reduza e continue a reduzir os salários
reais, quem mais introduza a «lei da selva», a nova
escravatura do trabalho para que no Planeta reine o reino do capital.
O que se pretende é pôr
em concorrência os trabalhadores com direitos com os trabalhadores
do Terceiro Mundo, super-explorados, com o pretexto de se criarem
empregos e de se defender o «consumidor» como entidade
abstracta, como se a maioria dos consumidores não tivessem
que trabalhar para o serem de facto.
Por detrás do «livre cambismo»,
do «tudo à liberalização e ao mercado»,
está a hegemonia da lei do mais forte, da submissão
e aniquilação do mais fraco. E mesmo a chamada liberdade
de comércio não é igualitária. Os
países não são postos em pé de igualdade.
Os EUA, por exemplo, campeões do «livre cambismo»
em teoria, são na prática um dos países mais
proteccionistas do mundo.
Por isso nós continuamos a exigir
a defesa da produção nacional a combater as relações
internacionais baseadas na dominação e na lei da
selva, a lutar pela dissolução dos blocos militares,
pela liquidação dos armamentos de extermínio
massivo e pela reorientação dos enormes meios financeiros
para o desenvolvimento e a cooperação internacional.
Por isso nós continuamos a defender
os direitos dos trabalhadores e a taxação dos movimentos
de capitais e a combater a desregulamentação que
conjuntamente com a informatização permite aos fluxos
de capitais especulativos deslocarem-se à velocidade da
luz e a obter enormes ganhos à custa dos povos.
Por isso nós continuamos a combater
as políticas monetaristas e neoliberais que no nosso país
e na União Europeia conduzem ao desemprego crescente, à
estagnação, à recessão e que em muitos
países continua a criar o caldo de cultura dos integrismos,
dos fundamentalismos e dos nacionalismos serôdios.
Por isso nós continuamos a combater
a degradação da democracia política, as alternâncias
sem quaisquer alternativas reais de políticas, as bipolarizações
para sossego do grande capital, a acentuação das
desigualdades e das injustiças sociais e a angustia de
uma existência precária que alimentam também
todas as derivas irracionais, a que há que juntar nas grandes
metrópoles um urbanismo selectivo, cinzento e sem rosto,
criando verdadeiros ghettos de imigrantes e de outros excluídos.
As explosões de violência e de insegurança
ligadas a estes problemas alimentam depois as manifestações
racistas e xenófobas e a demagogia da direita e da extrema
direita.
Mas a falência das soluções
capitalistas e neoliberais abre também espaço à
afirmação dos valores da esquerda e à demonstração
de que há outros caminhos.
Por isso os teóricos ao serviço
do grande capital procuram também inculcar a ideia que
a alternativa ao capitalismo não está na sua superação
mas num capitalismo bom, na fantasia de um capitalismo adjectivado
de «civilizado», de «social».
E há até quem o defina
e baptize como um capitalismo «renano», isto é,
como uma mistura de capitalismo alemão, japonês e
sueco.
Uma espécie de salada abstracta,
tirando partido de mitos, esquecendo-se das crises porque têm
passado essas economias e passando por cima da exploração,
da troca desigual, da dominação e das práticas
neo-colonialistas, que são a moeda de troca corrente nas
relações internacionais.
No quadro da luta ideológica
o que se pretende, evidentemente, é semear a resignação,
o fatalismo e a ideia de que há um capitalismo bom e
uma comunidade de interesses entre o trabalho e o capital.
Que a exploração do homem pelo homem, o desemprego
e o trabalho sem direitos, pertencem à ordem natural das
coisas.
Não. A solução
dos problemas não está no capitalismo, denomine-se
ele de civilizado, social ou de «economia de mercado».
O Imperialismo não mudou de natureza. Continua a impor
a troca desigual e a assenhorear-se de posições
económicas e estratégicas, a procurar abater resistências
e a travar ou derrotar processos nacionais libertadores, progressistas
e revolucionários.
A intervenção dos EUA
na Somália com fanfarras e holofotes a pretexto da ajuda
humanitária e a sua retirada em silêncio, pé
ante pé; a intervenção da França no
Ruanda; o bombardeamento pelos EUA do Iraque, ao serviço
de conveniências eleitorais, o drama do povo de Angola,
o bloqueio a Cuba, a posição de «dois pesos
e duas medidas» quanto às resoluções
da ONU sobre Timor, são alguns exemplos de uma política
agressiva, de opressão e de hipocrisia.
A solução não está
no reino do capitalismo, mas na sua superação, no
socialismo. Na nossa experiência pensamos que para trilhar
este novo caminho é necessário aprofundar a democracia
em todas as suas vertentes e é necessário que se
verifique a apropriação colectiva dos principais,
sublinhamos, principais meios de produção e de distribuição,
isto é, das empresas e sectores básicos e estratégicos.
Essa apropriação só
por si, não altera a sociedade. Mas sem esse passo qualquer
socialismo, por mais bonitas que sejam as suas vestes retóricas
não deixará de ser uma ilusão na cabeça
dos seus defensores sinceros e, no fundo, uma profunda mistificação.
Sem essa condição necessária, mas não
suficiente não haverá a materialização
de uma sociedade de liberdade e de democracia política,
económica, social e cultural em que o livre desenvolvimento
de cada um é condição de livre desenvolvimento
de todos. O exorcismo do fantasma das nacionalizações
foi sempre acompanhado de estratégias de abandono de toda
a perspectiva de mudança da sociedade.
E esse pseudo aggiornamento,
esse «modernismo», não é mais do que a
submissão, a resignação e aceitação
da perenidade do capitalismo.
Em 1959, os sociais democratas alemães
no Congresso de Bad-Godesberg renunciaram a Marx, à luta
de classes, às nacionalizações e adquiriram
a respeitabilidade do grande capital e o estatuto de gestores
aceitáveis do capitalismo.
Na prática foi a posição
que foi adoptando o Partido Socialista português. E é
esta posição oportunista do PS, do mesmo PS que
há uns anos, tal como se pode ler nas actas da Assembleia
da República, afirmava peremptoriamente que nunca permitiria
a reconstituição do poder e das fortunas familiares
que dominaram o nosso país, cada uma com o seu banco, a
sua companhia de seguros, o seu órgão de comunicação
social. Mais tarde viria a dizer que as actuais empresas básicas
e estratégicas já não são as de ontem,
que os tempos mudaram e que as telecomunicações
tinham adquirido uma posição cimeira. Hoje Governo
não só já privatizou parte das Telecomunicações
por metade do valor, como se cala perante o escândalo da
venda da Siderurgia, da Petrogal, do acordo com o Champalimaud
e até se vangloria de ter um programa tão ousado
de privatizações que teve os aplausos do PSD e dos
grandes senhores da finança.
E tudo isto teorizado com a necessidade
de «menos Estado». Menos Estado nas funções
sociais e mais Estado no apoio às oligarquias.
Na linha da luta ideológica
e da difusão da resignação, teoriza-se também,
que o trabalho estável e protegido terminou.
Que com as mutações tecnológicas um jovem
de hoje não pode pensar numa carreira profissional, mas
que terá de se habituar a pensar que terá de mudar
de emprego várias vezes na sua vida, a ter de trabalhar
de forma precária e por vezes em part-time, isto
é, habituar-se a ter trabalho, mas a não ter emprego!
Grande avanço de civilização!
É a procura de transmitir a actual
situação do mundo, como um estado natural, de retirar
toda a esperança de transformação de desarmar
ideologicamente e de fomentar a adaptação, a abdicação
e a submissão. A «adaptação»
é a palavra chave para todos os reformismos e abdicações
de transformação.
Os dogmas monetaristas, a ortodoxia
neoliberal e a sua propaganda continuam a esconder os mecanismos
que engendram a riqueza, a exploração, a pobreza
e a miséria, os mecanismos que engendram as mafias, a criminalidade
organizada e o narcotráfico que é um dos negócios
mais florescentes do planeta. Mas os povos lutam e resistem.
Em muitos países os povos conseguiram recuos à ofensiva
contra os seus direitos e até a obtenção
de novas conquistas, como aliás é ilustrado no Projecto
de Resolução Política e como o mostram
as recentes lutas dos metalúrgicos em Itália e na
Alemanha dos agricultores na Grécia, dos camionistas em
França e na Dinamarca, dos trabalhadores em Espanha, Bélgica
e Inglaterra e em tantos outros países.
É necessário continuar
a combater e a dar combate à ofensiva contra os direitos,
os salários e a segurança social e também
às mistificações ideológicas que a
suportam. Afirmamos e demonstramos
que há outras alternativas e que a consigna que tem inspirado
a JCP «Lutar para transformar» é mais actual
do que nunca.
E nesse sentido procuramos também
tirar todas as lições da experiência mundial
e as experiências da derrota de um «modelo» e
de práticas que se afastaram dos ideais e dos objectivos
sempre proclamados pelos comunistas e continuamos a aprofundar
a nossa apreciação sobre todas essas experiências,
abertas com a grande
Revolução de Outubro
em que se deram passos gigantes na construção de
uma nova sociedade e se facilitou com uma nova correlação
de forças, conquistas sociais e avanços progressistas para toda a humanidade. Por isso
mesmo e tendo em conta a situação mundial, reafirmamos
que o que é moderno e actual não é entrar
no século XXI com os flagelos e as chagas sociais do princípio
do século XIX, com a sopa dos pobres, com os bancos para
a pobreza, com a caridadezinha, mas antes lutar por um projecto
renovado que terá de ter em conta o devir, que reorganize
a sociedade sobre novas bases, que tenha as necessidades e aspirações
do homem e o seu trabalho criador como centro e objectivo fundamental.
Nós comunistas portugueses estamos
convictos, tal como a experiência histórica o
demonstra que é nas massas populares, na sua organização
e na força da sua luta emancipadora que assenta a real
possibilidade de um mundo finalmente liberto da exploração,
da alienação e dos flagelos sociais.
Nós comunistas portugueses estamos convictos que, a generalizada ofensiva do grande capital e as tentativas de impor ao mundo uma «nova ordem» de cariz totalitário exige dos comunistas e de todas as forças progressistas tudo fazer para confluir numa ampla frente anti-imperialista a luta dos trabalhadores e dos povos.
Nós comunistas portugueses estamos
convictos que é da cooperação e das intervenções
e lutas convergentes dos comunistas e outras forças de
esquerda, patrióticas e progressistas e da sua capacidade
para dar expressão política organizada ao enorme
potencial de luta libertadora que dependerá decisivamente
a perspectiva de evolução da situação
mundial.
É com esta forte convicção
e com confiança na força libertadora da luta dos
trabalhadores e dos povos e da sua solidariedade internacionalista,
que os comunistas portugueses prosseguem em Portugal a luta pelos
valores do 25 de Abril, pelos valores e ideais do socialismo e
do comunismo.
Dos 75 anos da sua existência
e da história do movimento operário e comunista
deste século que agora termina, o PCP extrai a confirmação
de que é justo e é realizável aquilo que
tem constituído e constitui um objectivo essencial da sua
luta: a construção em Portugal de uma sociedade
mais livre, mais justa, mais fraterna e mais humana, uma sociedade
socialista.
Camaradas:
Em 1 de Outubro do ano passado, a fragorosa
derrota do PSD traduziu um profundo e avassalador movimento de
opinião na sociedade portuguesa exprimindo uma imensa vontade
de mudança de política.
E é um facto incontornável
que foi o PS que, menos tendo lutado contra a política
de direita, quem acabou por capitalizar essa aspiração
de mudança impressionando favoravelmente grande parte do
eleitorado com as promessas que divulgou a partir das tribunas
dos comícios e que, por sinal, em muitos casos, até
eram o contrário da orientação à direita
que já constava dos seus documentos programáticos.
Catorze meses após a entrada
em funções do Governo do PS, há uma simples
mas terrível pergunta que, só por si, constitui
a mais devastadora acusação ao Governo.
Afinal, onde está mudança
?
Esta é a pergunta que fazem não
tanto os eleitores comunistas, que estavam prevenidos e não
tinham ilusões, mas sobretudo grande parte dos eleitores
que votaram no PS esperando uma política diferente e melhor.
É óbvio que mudaram as
caras do primeiro-ministro, dos Ministros, dos Secretários
de Estado e das legiões de boys que ocupam os jobs
do Estado. É óbvio que mudou o nome e a sigla do
partido governante. É óbvio que mudou alguma coisa
no palavreado e no estilo ( mas nem tanto como se diz, porque,
bem vistas as coisas, com o passar do tempo lá regressam
muitos dos piores tiques do estilo do cavaquismo). É óbvio
que, até para prolongar o chamado «estado de graça»
e não fazer um corte brusco com as expectativas populares,
de início o Governo adoptou pontualmente algumas medidas
positivas.
Mas catorze meses depois, o que justamente
se pode afirmar é que estas «mudanças»
de caras, de rótulo e de estilo estão a anos-luz
da mudança de política desejada pelos portugueses
e necessária ao país.
O que justamente se pode afirmar é
que estas mudanças de caras, de rótulo e de estilo
tem servido sobretudo não apenas para dar continuidade,
no essencial, à política que foi condenada nas urnas
mas também para proteger a clara tentativa de impor aos
portugueses uma política que, em alguns domínios,
pretende realizar aquilo que um PSD enfraquecido e desacreditado
já não teve forças para realizar.
A verdade, hoje largamente partilhada
e constatada por um leque de opiniões que abrange todas
as áreas partidárias, é que em quase tudo
o que é determinante, decisivo e estruturante para a vida
dos portugueses e para a situação do país,
o Governo do PS é, fundamentalmente, o fiel continuador
da política de direita antes realizada pelo PSD.
Com efeito, não há
mudança mas pura continuidade quando, com tem acontecido,
o Governo do PS insiste numa política de concentração
da riqueza em poucas mãos e de maiores sacrifícios
e dificuldades para a população laboriosa, mantendo
e agravando as injustiças e as desigualdades sociais.
Não há mudança
mas pura continuidade quando
como tem acontecido, o Governo do PS insiste numa política
económica que definha o aparelho produtivo nacional, tornando-o
cada vez mais dependente, vulnerável e subcontratado.
Não há mudança
mas continuidade agravada
quando, como tem acontecido, o Governo do PS prossegue e intensifica
de forma brutal um processo de privatizações de
empresas do Estado que conduz ao controlo de centros vitais da
economia portuguesa pelos estrangeiros e à perda de importantes
instrumentos de soberania económica e de protecção
do interesse público, que levará em linha recta
a formas ainda mais clamorosas de subordinação do
poder político ao poder económico. Privatizações
que se traduzem num verdadeiro assalto e roubo privado de património
público e à instrumentalização das
decisões do Estado ao serviço da transferência
de centenas milhões de contos para o grande capital, através
das propositadas subavaliações que são feitas
do valor dessas empresas e de todo um interminável corrupio
de situações de falta de transparência, amiguismo
e corrupção. [É certo que, no quadro dos
grandes partidos com representação na Assembleia
da República, só nós assumimos a denúncia
deste escândalo, deste crime e deste roubo. Mas não
nos importamos com esta solidão. Mais vale estar só
nesta honrosa atitude de denúncia do que fazer desonrosa
companhia àqueles - como o PS, o PSD e o PP - que são
cúmplices desta cruzada de rapina que volta a pôr
em evidência essa velha tragédia da história
portuguesa que é o egoísmo das classes dominantes
e sua histórica propensão não para o trabalho
produtivo e a criação de riqueza mas para os jogos
de compra e venda, a especulação financeira e o
parasitismo.]
Não há mudança
mas pura continuidade quando,
como tem acontecido, o Governo do PS insiste em querer basear
a competitividade da economia portuguesa na degradação
do poder de compra dos salários e das pensões e
reformas, na restrição e ataque aos direitos dos
trabalhadores de que a imposição da lei da flexibilidade
e da polivalência constitui uma grave e inquietante expressão
das reais prioridades e atitudes do governo em relação
ao mundo do trabalho.
Não há mudança
mas pura continuidade quando,
como tem acontecido embora em algumas áreas recorrendo
à técnica dos «pézinhos de lã»
para dificultar a reacção popular), o Governo do
PS insiste em ideias ditas de «reforma do Estado-Providência»
(falar de Estado-Providência em Portugal só pode
ser piada de mau gosto ou conversa de lunáticos), cujo
verdadeiro conteúdo é o ataque aos insuficientes
direitos sociais conquistados pelos portugueses, é o ataque
aos sistemas públicos de segurança social, de educação
e de saúde e o avanço no sentido da sua privatização,
aumentando as áreas de chorudos negócios privados
à custa das privações, carências e
necessidades da população.
Não há mudança
mas pura continuidade quando,
como tem acontecido, o Governo do PS, do mesmo PS que fez do combate
ao desemprego uma das suas mais esplendorosas bandeiras eleitorais,
insiste numa política que assume deliberadamente a perspectiva
do aumento do desemprego - esse grande flagelo que corrói
o tecido social e atinge de forma tão dramática
tantas e tantas famílias portuguesas - e que para o combate
o desemprego, para além na insistência na política
económica que o provoca, só consegue desencantar
habilidades estatísticas ou recuperar «planos»
e «pacotes» de medidas repetidamente apresentados pelo
PSD e repetidamente fracassados.
Recordam-se como o PS na oposição
levantou a bandeira da justiça fiscal e agora o que se
vê e este é já o segundo Orçamento
de Estado elaborado pelo Governo PS é que se mantém
a mesma política de injustiça fiscal em que são
os trabalhadores por conta de outrém os que continuam na
realidade a pagar impostos enquanto por outro lado, 190 milhões
de contos de benefícios fiscais são oferecidos no
essencial ao capital financeiro e especulativo.
Mesmo em relação aos
Serviço de Informações
que o PS na oposição tanto clamou contra os seus
abusos, agora no Governo deixa tudo exactamente na mesma, não
só terminando as investigações sobre a espionagem
de partidos políticos, mas também mandando arquivar
o respectivo inquérito. O Governo do PS conserva em funções
todos os responsáveis destas estruturas, mantém
o SIS sem qualquer fiscalização da Assembleia da
República e continua a pretender excluir o PCP do respectivo
Conselho de Fiscalização, na fidelidade à
teoria antidemocrática debitada nos bastidores de que era
o que faltava que os vigiados pelo SIS passassem a fiscalizar
o SIS.
É porque a continuidade é
a regra e não a mudança é que aumentam o
desencanto, os protestos e a conflitualidade social como se expressa
na luta de amplas camadas da população, na luta
dos agricultores, dos estudantes e professores, dos trabalhadores
da Administração Pública, na marcha dos reformados,
na greve dos ferroviários, na marcha dos mineiros de Aljustrel,
na greve da Siemens e da Companhia Portuguesa do Cobre, na luta
dos Rodoviários do Sul do Tejo, da Renault, da Portucel
de Viana do Castelo, da Siderurgia Nacional, na luta vitoriosa
da Grundig e de tantas outras empresas e sectores.
Tal como o nosso Partido alertou,
alastram também os conflitos resultantes da aplicação
da Lei da Flexibilidade e da Polivalência e verificam-se
já greves e paralisações, e outras estão
marcadas sobretudo no sector Têxtil, contra as tentativas
de aplicação abusiva da Lei, como é o caso
da eliminação das pausas. Isto é inaceitável
e intolerável. O Governo não pode continuar a lavar
as mãos como Pilatos!
A luta é o caminho contra uma
política que visa a liquidação de direitos
e o congelamento dos salários.
Daqui saudamos os trabalhadores em luta
dizendo-lhes que podem contar com o PCP, nas instituições
e fora delas, no apoio certo e seguro às suas justas reivindicações.
Daqui saudamos os sindicalistas, os membros das comissões
de trabalhadores e a CGTP-IN, a grande Central unitária
e de classe dos trabalhadores portugueses.
Daqui saudamos também a juventude,
pela sua luta pelo emprego, pelas saídas profissionais,
pelo ensino de qualidade, palavra de ordem justamente levantada
pela JCP, a juventude do PCP.
Camaradas:
O PS que na oposição dizia
que os portugueses estavam primeiro, coloca agora primeiro que
tudo, antes de tudo e à frente de tudo a sua política
o cumprimento dos critérios de convergência nominal
de Maastricht e coloca como absoluta prioridade nacional a participação
de Portugal na 3ª fase da UEM e na marcha forçada
para a moeda única, com manifestos sacrifícios para
os trabalhadores e o emprego e manifesta secundarização
da aproximação de Portugal aos outros países
da UE em termos de desenvolvimento real, salários, nível
de vida e bem estar social.
Tal como já acontecera com a
própria adesão à CEE em 1985 e com o Acto
Único em 1992, voltam agora com a moeda única os
vendedores de ilusões às suas habituais promessas
de prosperidade geral, de maior investimento, mais emprego, maior
bem estar.
É caso para dizer que a burocracia
de Bruxelas, os diversos governos nacionais e o grande capital
que todos servem se tornaram especialistas nessa suprema técnica
de nunca confrontarem as sua anteriores promessas com os factos
e as realidades e de sempre quererem convencer os povos que «na
próxima é que é..»
No passado, venderam-nos a ideia
do fácil acesso da produção nacional a um
mercado de mais de 300 milhões de consumidores com alto
poder de compra. Mas o que
vimos e sofremos foi a crescente substituição da
produção nacional pela produção estrangeira,
com a liquidação e a ruína da nossa agricultura,
das nossas pescas e de importantes sectores industriais.
No passado, venderam-nos a ideia
de que rapidamente ascenderíamos aos níveis salariais,
de protecção social e de bem estar dos países
mais desenvolvidos, mas o
que vimos e sofremos foi a aproximação em termos
de preços e de impostos e a continuação da
degradação dos salários e de um baixo nível
de vida.
No passado, para nos venderem a aceitação
do Mercado Único, até elaboraram o célebre
Relatório Cecchini, então muito papagueado e por
dirigentes do PSD, do PS e do CDS, em que vários «sábios»
prometiam a formidável criação de milhões
de empregos que, obviamente nunca ninguém chegou a ver.
Mais tarde, em 1994, um dos membros
do Comité Director do grupo Cecchini veio declarar, com
toda a desfaçatez, que as elevadas estimativas em matéria
de criação de emprego eram, em grande parte, propaganda
ao serviço da União Europeia e que nenhum dos relatores
tinha a ideia de que o mercado único era uma máquina
de criar empregos! E foi mais longe afirmando mesmo que «a
propaganda por uma boa causa» era necessária...
No caso de Portugal, o que se pode dizer
é que a obsessão da moeda única está
sendo propagandeada por um discurso e com argumentos caracterizados
por uma absoluta vacuidade.
O primeiro-ministro, como o «pelotão
da frente» de que Cavaco Silva tanto falava já estava
um bocado gasto, passou a dizer a toda a hora que com a adesão
à moeda única se trata de colocar Portugal «no
centro da construção europeia». O Ministro
das Finanças, esse, não faz a coisa por menos e
declarou perante a Assembleia da República que com a adesão
à moeda única o que se verificaria seria o nosso
«regresso aos melhores momentos da história pátria».
E há pouco tempo, certamente
achando que os exemplos práticos dão sempre jeito,
o Primeiro Ministro rapou do grande argumento de que, com a moeda
única, até poderemos viajar no futuro por essa Europa
fora sem precisarmos de trocar dinheiro.
Mas como o Primeiro Ministro deveria
saber, não é por causa da incomodidade dos câmbios,
que hoje até se fazem em qualquer multibanco, que a grande
maioria dos portugueses não viaja por essa Europa fora,
mas sim por falta de dinheiro para trocar.
E quando parte para a Europa é
para ir vender a sua força de trabalho e procurar o que
não encontra no nosso País.
Estando em jogo coisas tão sérias
como a situação e os interesses e o futuro do aparelho
produtivo nacional, como os salários e o emprego dos portugueses,
como a soberania do país, o Primeiro Ministro faria melhor
em deixar-se de argumentos de pacotilha que nem sequer convencem
os portugueses que fazem turismo lá por fora, quanto mais
os que vivem mal cá dentro.
A verdade é que, como o PCP tem
afirmado sem contestação possível, o cumprimento
acelerado dos critérios de Maastricht, significará
não apenas acrescidos sacrifícios e dificuldades
no ano de 1997, mas também nos anos de 1998 e 1999, até
à criação da moeda única, e também
depois da sua criação.
A verdade é que, como o PCP tem
afirmado sem contestação convincente, é que
o facto de Portugal vir a participar no núcleo inicial
da moeda única, longe de lhe dar qualquer especial papel,
peso ou influência na construção europeia,
torna-o sim ainda mais prisioneiro da política neoliberal
e mais amarrado e atado às inspirações, ditames
e interesses dos países mais desenvolvidos da União
Europeia.
A verdade é que, como o PCP tem
afirmado sem refutação, é uma profunda insensatez
supor que passar a ter, de forma absolutamente artificial, uma
moeda forte, é o grande remédio para um país
com uma economia fraca e atrasada do ponto de vista relativo.
E é um acto de cegueira política
não querer perceber que a sujeição às
políticas únicas monetária e cambial já
impede hoje, e impediria no futuro, que a economia portuguesa
cresça a um ritmo substancialmente mais rápido que
a da média comunitária, o que significa o abandono
de qualquer perspectiva seria de convergência real.
Primeiro, o Tratado de Maastricht e
agora a aproximação da criação da
moeda única representaram e representam uma profunda mutilação
da soberania nacional, representaram e representam saltos qualitativos
no processo de integração europeia que modificam
o próprio estatuto de Portugal na cena internacional, representaram
e representam uma gravosa hipoteca sobre o nosso futuro colectivo.
Como se sabe, reclamámos que
o Tratado de Maastricht, como aconteceu noutros países,
fosse sujeito a referendo no nosso País.
Como se sabe, o PSD e PS opuseram-se
vivamente a esse referendo.
Como se sabe, o PCP, com redobrada razão,
reclama agora que, não sendo feito o referendo sobre o
Tratado de Maastricht, a revisão deste Tratado que está
em curso e a participação de Portugal na moeda única
seja objecto de um referendo em que os portugueses possam manifestar
a sua opinião e vontade sobre esses passos de tantas e
tão profundas consequências para o nosso país.
Como quase todas as semanas há
notícias que referem que quer o PS quer o PSD admitem ou
contam com a realização de um referendo sobre a
integração europeia, pode haver portugueses que
pensem que isso vai mesmo acontecer.
Puro engano e pura ilusão.
A verdade é que, na comissão
de revisão constitucional, o PS e PSD já se entenderam
quanto a uma formulação constitucional que não
permitirá nem referendar a revisão do Tratado
de Maastricht, nem a moeda única.
A formulação que acordaram
o mais que eventualmente poderá permitir é que possam
ser referendadas questões novas introduzidas pela revisão
do Tratado.
Mas a verdade é que até
hoje ninguém foi capaz de dar um só exemplo de uma
matéria ou questão nova que possa sair da CIG/96
é que valha realmente um referendo.
E por aqui se pode perceber é
que a grande táctica do PS e do PSD, com a cumplicidade
de muitos distraídos e mal informados, é agitar
a promessa de um eventual referendo sobre os trocos e as minudências
da integração europeia, para melhor esconderem que
querem continuar a consumar esta perigosa aventura ao arrepio
da consulta ao povo português e negando o direito que lhe
assiste de tomar a palavra e decidir.
E, por isso, desta tribuna do nosso
XV Congresso, queremos dar uma garantia e deixar um aviso.
Queremos dar a garantia de que o PCP
continuará a lutar sem desfalecimento contra este perigoso
projecto de aprisionar Portugal nas teias de Maastricht e que
travará uma grande batalha política pela realização
de um referendo nacional sobre a moeda única.
E queremos deixar o aviso de que, pela
nossa parte, entendemos que nenhuns Tratados internacionais que
venham a ser antidemocraticamente assumidos pelo PS e pelo PSD,
poderão representar compromissos eternos para Portugal
e que o povo português conserva intacto o seu inalienável
direito de, em qualquer momento, decidir como lhe aprouver, sem
outros limites do que a sua vontade e a sua noção
de interesse nacional.
Numa análise, ainda que extensa
mas não exaustiva, da governação do PS não
podem ser esquecidas algumas referências ao triste ponto
em que estão duas maiores bandeiras eleitorais do PS: a
famosa paixão pela educação e o quase tão
famoso empenho na regionalização.
A «paixão pela educação»
tão apregoada pelo PS na hora de angariar votos e de aceder
ao poder transformou-se, em pouco mais de um ano, para muitos,
numa cruel desilusão.
O «diálogo» prometido
desembocou numa conversa de surdos e o autoritarismo vai emergindo
progressivamente no estilo de um Ministro da Educação
cada vez mais isolado e desorientado.
O fundamental da herança da longa
passagem do PSD pela pasta da educação mantém-se
inalterada e é particularmente grave que o Ministério
da Educação não tenha procedido à
avaliação da desastrosa «reforma educativa»
do cavaquismo e à pronta correcção das suas
orientações mais nefastas.
Com a «paixão» do PS
já tivemos toda a confusão e baralhada dos exames
nacionais de finalização do ensino secundário
e do acesso ao ensino superior, agora temos o não cumprimento
da Constituição no que respeita à indispensável
cobertura do país com uma rede pública e gratuita
em relação à educação pré-escolar,
temos uma proposta sobre financiamento do ensino superior elaborada
sem qualquer consulta aos estudantes, aos professores e às
escolas do ensino superior reincidindo na tentativa de aumentar
substancialmente as propinas no ensino público e de sentar
à mesa do Orçamento de Estado as empresas que exploram
o ensino privado. Recentemente tivemos também a precipitação
das alterações à Lei de Bases sem qualquer
avaliação de conjunto e debate prévio, procurando
dividir estudantes e professores.
O PS que durante a campanha eleitoral
defendeu a eliminação progressiva dos numerus
clausus no acesso ao ensino superior público, uma vez
chegado ao Governo tem actuado em sentido contrário. E
tudo isto dizendo que a educação é a sua
«paixão». O que seria se não fosse...
Quanto à regionalização,
por mais proclamações que os dirigentes do PS continuem
a fazer, é hoje uma evidência incontornável
que o real interesse e empenho do PS na concretização
da regionalização é pouco mais que zero.
O PS ainda votou com o PCP o projecto
de criação das Regiões Administrativas, mas
poucos dias depois, logo nos primeiros embates com a demagogia
referendária do PSD e do PP, começou a ceder, a
ceder, até ao ponto de já estar acordado com o PSD
e o PP uma alteração à Constituição
que tornará a regionalização dependente de
um referendo prévio, o que desde logo, representa o precedente
de referendar uma matéria que está há 20
consagrada na Constituição e cria um processo que
é uma imensa complicação e uma enorme trapalhada
que, a ser consumada e aprovada, tornará particularmente
incerta e problemática a concretização da
regionalização.
De vez em quando, aparecem dirigentes
regionais do PS a clamarem contra o atraso e a paralisia deste
processo.
Não queremos duvidar da sinceridade
de muitos, mas não se pode deixar de notar que alguns parecem
só ter percebido agora o que o PCP já explicou há
seis meses, que alguns dizem que o erro do PS foi ter cedido ao
PSD no referendo mas entretanto não os vemos a batalharem
pela anulação do erro, que todos se dizem entusiastas
da regionalização, mas a verdade é que, à
beira do fim do prazo nem metade das Câmaras do PS se tinham
pronunciado sobre os projectos de criação das Regiões
Administrativas, enquanto das 41 Câmaras CDU, já
o tinham feito.
Que ninguém tenha dúvidas:
a única esperança de uma próxima criação
efectiva da regionalização está na sua concretização
no quadro de que a Constituição actualmente dispõe.
As alterações à Constituição,
que o PS, o PSD e o PP querem proceder nesta matéria, não
são para facilitar a regionalização, mas
para a adiar ou enterrar de vez.
O PCP não aprovará uma
qualquer regionalização, nem será ajudante
ou salvador do PS nas curvas do caminho errado e desastroso em
que entrou e de que, pelos vistos, não quer sair.
O PCP continuará a lutar firme
e coerentemente por uma regionalização democrática
do Continente, não para «dividir» ou «esquartejar»
o País, mas para ajudar a atenuar as desigualdades de desenvolvimento
do País que prejudicam a coesão nacional, não
para criar mais burocracia, mas para criar participação
e democracia no lugar da burocracia e da falta de legitimidade
democrática das actuais CCR's.
As próximas eleições autárquicas constituem uma importante batalha política com repercussões directas na vida das populações e na evolução da vida política nacional.
São já indisfarçáveis os meios e as manobras politiqueiras que alguns parecem estar dispostos a jogar mão nesta batalha eleitoral.
Muito do mérito que escasseia em acção autárquica aos nossos adversários eleitorais tentará ser compensado por campanhas suportadas em vultuosos meios financeiros e alimentadas por uma mediatização destinada a vender novos candidatos e a desvirtuar o carácter e objectivos locais de eleições autárquicas.
Inaceitável, mas também revelador de uma certa cultura de poder, é desde já a despropositada e abusiva intervenção dos governadores civis a quem parece ter sido atribuído o papel de agentes eleitorais do PS, distribuindo verbas, prometendo obras e realizações, promovendo e lançando localmente potenciais candidatos do partido do governo a vários dos municípios do país. Se a isso se juntar a acção que os presidentes da CCR, todos oportunamente nomeados pelo actual governo, continuam a manter no terreno melhor se perceberá as razões que podem estar na origem da súbito arrefecimento da paixão regionalista do PS e das vantagens de instrumentalização eleitoral que a sua ausência possibilita.
Também neste jogo politiqueiro o PS não fica atrás do PSD. Igualmente inaceitável é a utilização de dinheiros e recursos públicos, como sucede com as verbas destinadas para contratos programa e com a orientação de numerosos investimentos inscritos no PIDDAC, como instrumentos de uma acção direccionada para determinados municípios segundo uma lógica estritamente eleitoralista. São os sacos azuis ao serviço da campanha eleitoral do PS.
As próximas eleições constituem uma batalha política de todo o Partido a requerer a intervenção do conjunto dos militantes e organizações. À demagogia dos outros partidos nós devemos responder com o prosseguimento, ampliação e valorização do trabalho realizado, adoptando medidas com vista a dinamizar e envolver as organizações locais, ultimar a definição das candidaturas a apresentar e dos programas eleitorais a submeter às populações. A apresentação de candidaturas a todos os órgãos municipais e ao maior número possível de freguesias, que constitui um dos objectivos expressos nas nossas teses, exige uma atempada intervenção e iniciativa que permita afirmar a CDU como um amplo espaço de participação democrática aberto à contribuição e ao trabalho de milhares de cidadãos independentes.
O trabalho do Partido e da CDU nas autarquias e a acção dos nossos eleitos têm merecido o reconhecimento e apoio de largos sectores da população.
Um trabalho que se distingue não apenas pelo valor e a quantidade da obra realizada mas também pela sua identificação com as mais profundas aspirações populares, pelo conteúdo democrático e participado da gestão, pelos critérios de isenção, honestidade e competência que caracterizam e dão forma ao projecto autárquico do PCP.
A avaliação e o balanço positivo que se continua a fazer e que é mesmo reconhecido pelos nossos adversários, não deve fazer esquecer a necessidade de enfrentar traços e aspectos mais negativos que a não serem colectivamente assumidos e corrigidos poderiam tender para um esbatimento do conteúdo inovador da nossa acção autárquica. O exercício do papel de direcção dos organismos do Partido onde os eleitos naturalmente se inserem é uma condição para garantir uma adequada intervenção do conjunto do Partido na acção e na luta pela transformação e melhoria das condições de vida das populações e comunidades locais.
O reforço das posições da CDU nas próximas eleições autárquicas é uma condição necessária ao desenvolvimento de uma intervenção ao serviço das populações mas também para a defesa da autonomia do poder local.
Em maioria ou em minoria a presença e posições da CDU são uma garantia e uma voz em defesa dos interesses das populações, sempre disponível para dar uma contribuição séria à solução dos problemas locais e elevar a voz com inconformada energia na denuncia e no combate às injustiças, às arbitrariedades e às ilegalidades.
E porque isto é uma realidade
insofismável encaramos as próximas batalhas das
autárquicas com grande determinação, mas
também, com uma grande serenidade e uma grande confiança.
Com justificada confiança na
possibilidade de confirmar e fazer progredir a forte e diversificada
presença e posições que o Partido e a CDU
dispõem nas autarquias. Uma confiança alicerçada
no trabalho e na obra realizada cuja dimensão e valor é
largamente reconhecido pelas populações. Uma confiança
que não pode nem deve entretanto abrandar a atenção
e o empenhamento do conjunto do Partido.
A batalha eleitoral mais recente que
travámos e em condições e Regiões
particularmente difíceis foi a batalha das eleições
regionais nas Regiões Autónomas dos Açores
e da Madeira em que reforçamos as nossas posições
e abrimos boas perspectivas para o futuro.
Daqui saudamos os camaradas pelo seu
trabalho, pelo seu esforço, persistência e combatividade.
Camaradas:
No âmbito da situação
política nacional, impõe-se uma veemente chamada
de atenção para os perigos que a revisão
constitucional em curso comporta e anuncia.
Em primeiro lugar, é necessário
salientar que, mesmo que muitas propostas do PSD e do PP não
venham a fazer vencimento, a verdade é que os projectos
de revisão destes partidos falam como um livro aberto sobre
a sua visceral hostilidade a quase todas as conquistas, aquisições
e princípios progressistas consagrados na Lei fundamental
do País e traduzem a tentativa de um verdadeiro ajuste
de contas com o património da Revolução de
Abril.
Em segundo lugar, é preciso sublinhar
que, como aconteceu em revisões anteriores, os maiores
perigos advêm de novos entendimentos e acordos do PS com
o PSD susceptíveis de introduzirem gravosas alterações,
designadamente no plano da perversão da democracia política.
Já referimos os entendimentos
que o PS e o PSD têm encaminhados para impedir o referendo
sobre a moeda única e para baralhar e complicar a concretização
da criação das regiões administrativas.
Mas, para além disso, consideramos
particularmente inquietantes as possibilidades de um acordo entre
o PS e PSD quanto à alteração do sistema
de eleição das Câmaras municipais e do sistema
de eleição da Assembleia da República,
em ambos os casos afectando gravemente o respeito pela proporcionalidade.
Quanto às Câmaras Municipais,
a dificuldade está em saber qual das propostas - se a do
PSD se a do PS - é mais antidemocrática.
O PSD quer que o partido mais votado,
mesmo que não tenha a maioria absoluta, receba um bónus
administrativo por forma a ter sempre direito a uma maioria absoluta
de vereadores.
[E o PS tem o atrevimento de pretender
acabar com o direito e a prática que os portugueses exercem
há 20 anos de elegerem directamente as Câmaras Municipais
pelo sistema proporcional, e poderem assim determinar e escolher
quem são os vereadores do Executivo municipal.
[Segundo a aberrante proposta do PS,
deixaria de haver eleição para as Câmaras
Municipais e o Presidente da Câmara seria o candidato mais
votado da lista para a Assembleia Municipal que ficaria investido
do poder absoluto de escolher a seu bel-prazer todos os vereadores.
Queremos deixar absolutamente claro
que a nossa total oposição a esta proposta não
tem nada que ver com cálculos de ganhos e de perdas e só
tem que ver com a nossa firme convicção de que o
sistema actual - permitindo uma representação pluralista
nas Câmaras Municipais, ao permitir que a gestão
municipal seja fiscalizada a partir da própria vereação
ao permitir que vereadores da oposição possam exercer
pelouros - tem um grande e insubstituível valor democrático.
Nós damos grande importância
e não abdicamos de ter vereadores nos Municípios
de maioria de outras forças políticas e não
temos nenhum problema nem nos sentimos incomodados em que nas
Câmaras de maioria CDU haja vereadores de outras forças
políticas.]
No que respeita ao sistema eleitoral
para a Assembleia da República, o maior perigo da sua perversão
está nas propostas do PSD e do PS para criar círculos
uninominais (em que só se elege o candidato vencedor) e
que, de forma directa ou indirecta, representarão um golpe
contra a proporcionalidade, isto é, contra uma representação
parlamentar de cada força política correspondente
aos reais votos que teve.
Quando afirmamos isto, é frequente
o PS mostrar indignação e logo vir jurar a pés
juntos que não senhor, não querem pôr em causa
a proporcionalidade.
O problema é que há
dois anos que andamos a desafiar o PS para explicar, publicamente,
tintim por tintim, como é que consegue instituir círculos
uninominais sem afectar a proporcionalidade e para, de uma vez
por todas, explicitar em termos concretos e compreensíveis
que sistema eleitoral é que verdadeiramente propõe
ou quer.
E é isto que, ao longo de dois
anos, o PS nunca fez e nunca explicou cabalmente, adiantando-nos
em privado que, depois de alterada a Constituição,
em sede de Lei ordinária então logo se verá
como será concretamente o novo sistema eleitoral.
Esta política de ocultação,
de falta de transparência e de «cheque em branco»
é totalmente inaceitável.
Como é totalmente inaceitável
que, conforme resulta de recentes declarações de
dirigentes do PS e do PSD, se esteja à beira de um novo
acordo de bastidores entre os dois partidos, consagrado ou não
com cerimónia pública, transformando a Assembleia
da República num mero notário do que PS e PSD já
decidiram no exterior.
[O PCP intervém neste processo
dando combate às propostas de outros partidos e apresentando
as suas próprias propostas de fortalecimento dos direitos
fundamentais, em particular dos trabalhadores e do sistema democrático,
designadamente através do reforço do papel da Assembleia
da República e das autarquias locais.]
A revisão constitucional deve
decorrer na respectiva comissão parlamentar e respeitar
as características básicas do regime democrático.
A revisão só faz sentido, na óptica do PCP,
para tornar a democracia e os direitos fundamentais mais fortes
e não mais fracos. Continuaremos a intervir nesta batalha
com firmeza, dentro e fora da Assembleia da República e
consideramos que é urgente uma grande mobilização
dos democratas contra a nova aliança entre o PS e o PSD
na revisão da Constituição.
Como estareis recordados, quando em
Novembro do ano passado, o PS apresentou na Assembleia da República
o seu Programa de Governo - um Programa de governo que
não deixava a mais pequena dúvida quanto ao propósito
do PS de continuar as grandes e mais decisivas linhas de orientação
e opções de fundo da política de direita
- logo o nosso Partido se definiu, com toda a clareza e frontalidade,
como a oposição de esquerda ao Governo do PS
e à sua política.
Estamos convictos que o conjunto do
Partido apoia sem qualquer reserva ou hesitação
esta nossa atitude de clara demarcação do PS e do
seu Governo.
Esta nossa colocação como
oposição de esquerda era e é indispensável
por respeito com os compromissos que assumimos perante os portugueses
que em nós confiaram, por coerência com a política
que propomos e defendemos, por dever de intervenção
na resistência e na luta contra os golpes e agressões
que a política anunciada e seguida pelo PS inevitavelmente
significaria para os direitos e interesses dos trabalhadores e
de vastas camadas da população.
Mas era e é também indispensável
como forma de combater e desarticular duas manobras de mistificação
em que nos próximos anos, o PS e o PSD estarão vivamente
empenhados.
A primeira manobra
conduzida pelo PS, consiste em usar o seu nome e a sua etiqueta
de Partido Socialista para procurar convencer a sua base eleitoral
de que a política que está desenvolvendo é
a única possível, procurando que os seus eleitores,
por razões de simpatia ou afinidade partidária,
se disponham a tolerar ao PS tudo quanto odiavam no PSD, caindo
na resignação, no conformismo e na apatia.
A segunda manobra, conduzida
pelo PSD e por toda a direita e que tem grande acolhimento nos
meios de comunicação social, consiste em fazer crer
que, como o Governo é do PS, seria a «esquerda»
que estaria a governar, para mais à frente poderem dizer
que o fracasso do PS foi o fracasso da «esquerda» (o
que também atingiria o PCP) e, portanto a alternativa estaria
no regresso da direita. Ou seja, o que o PSD e toda a direita
gostariam era de ganhar em dois tabuleiros: terem o proveito da
continuação da sua política pelo PS e terem
o proveito eleitoral de atribuir as culpas e as responsabilidades
à «esquerda».
Ao definirmo-nos com a oposição
de esquerda ao Governo do PS, contribuímos decisivamente
para deixar claro que não é a «esquerda»
- mas tão só o PS - que está no Governo e
que não é uma política de esquerda - mas
uma política de direita - que está a ser realizada.
Com isto, estamos a caracterizar uma
política e não estamos de forma nenhuma a duvidar
dos sentimentos e aspirações de esquerda de portugueses
que confiaram e ainda confiam no PS ou que nele militam.
Apresentamo-nos e afirmamo-nos pois
como a oposição de esquerda ao Governo do PS, como
o grande Partido de esquerda que levanta bem alto e com firmeza
os valores da esquerda.
Mas talvez falte dizer alguma coisa
mais: é que não somos apenas a oposição
de esquerda, somos também, no quadro dos principais partidos,
a única oposição verdadeiramente digna desse
nome.
Porque a oposição da direita
é, no fundamental, uma encenação de uma falsa
oposição por parte de partidos - o PSD e o PP -
que na verdade estão de acordo com as linhas fundamentais
da política do PS. Mas que precisam de o esconder e precisam
que as divergências menores e em questões acessórias
retirem visibilidade pública às suas convergências
e entendimentos no que é essencial e mais importante.
Os jogos, os joguinhos e a competição
entre o PSD e o PP para ver quem é que se tornava parceiro
do PS na viabilização do Orçamento, as piruetas
trimestrais de Manuel Monteiro, a multiplicação
entre PS, PSD e PP de incidentes verbais, de ultimatos, de desafios,
de cartas abertas e fechadas, de rábulas diárias
e semanais, de ameaças públicas e de combinações
privadas, de punhaladas políticas para Televisão
ver e de amigáveis abraços de bastidor - tudo isto
não passa afinal de produtos saídos de uma gigantesca
fábrica de nevoeiro político que é soprado
para impedir os portugueses de descobrirem a verdade, a verdade
que os ajudaria a aproximarem-se de outras opções
políticas e eleitorais.
O recente acordo do PP com o PS acerca
do Orçamento, que é um Orçamento da moeda
única, do desemprego e da contenção salarial,
fala por si. Mostra as cambalhotas e as politiqueirices do PP
e mostra também, o conteúdo do Orçamento
do PS para ser viabilizado por um partido da extrema direita.
Não faltam aliás dezenas
e dezenas de assuntos em que facilmente se distingue a real oposição
do PCP e a falsa oposição do PSD e do PP.
[Mas basta citar a questão do
«diálogo». O PSD e o PP dão de barato
que o PS de facto dialoga muito e a crítica que lhe fazem
é a de que o PS passaria a vida a dialogar e decidiria
pouco, não teria autoridade e recuaria perante qualquer
contestação.
Nós, pela nossa parte, temos
sobre isto ideias muito diferentes.
Temos a ideia de que, ao fim de 14 meses,
o «diálogo» do Governo do PS é sobretudo
«conversa fiada» para dourar a pílula amarga
da sua política e anestesiar o descontentamento e o protesto
popular.
Temos a ideia de que o Governo não
dialoga de mais e decide de menos, antes decide muito mas mal
e ouve pouco e respeita pouco as justas reivindicações
dos portugueses afectados pela sua política.
E temos também a firme opinião
que por detrás do palavreado do Governo PS sobre a «concertação
estratégica» o que se esconde é a tentativa
de corresponsabilizar e comprometer as organizações
sociais para uma estratégia que o Governo há muito
definiu e que não quer discutir com ninguém].
E é tendo em conta a grande sintonia
que em todas as questões de fundo existe entre o PSD e
o PS que ainda se torna mais ridículo ver o Presidente
do PSD a qualificar-se a si próprio de «líder
da oposição», tal como fazia, com idêntica
presunção e da mesma forma abusiva, o Eng. António
Guterres quando Cavaco Silva era Primeiro Ministro. Falemos francamente:
nesta matéria, a prosápia de Marcelo Rebelo de Sousa,
como ontem a prosápia do Eng. António Guterres,
não é apenas uma questão de ridículo
nem uma questão de lapsos: é uma manifestação
de conflito intelectual e político com o pluralismo, é
uma expressão de incomodidade e inadaptação
às regras democráticas, é uma atitude de
cariz totalitário que recusa a evidência de que no
quadro partidário nacional, felizmente, não se esgota
nos partidos alternantes na execução na política
de direita.
Ao professor Marcelo Rebelo de Sousa
dizemos hoje o mesmo que no passado dissemos ao Eng. Guterres:
dê-se por muito feliz e contente por, quando muito, liderar
o seu próprio partido: e ganhe juízo nessa sua tola
pretensão de «liderar a oposição»
e de liderar outros partidos que não aceitam nem toleram
tutelas e se governam e lideram muito bem a si próprios.
Cremos serem inteiramente compreensíveis
as razões porque fazemos questão em nos afirmarmos
tão fortemente como a oposição de esquerda
ao Governo do PS.
Mas essa importantíssima definição
só serve para abranger a nossa atitude no plano institucional,
político e social face ao Governo e à sua política.
É porém insuficiente para
exprimir com verdade a atitude global do PCP perante a sociedade
portuguesa e perante o regime democrático consagrado na
Constituição que ajudámos a fundar e a construir
e de que somos firmes defensores.
Desmentindo as deturpações
e caricaturas lançadas pelos que tudo fazem para nos apresentar
como um partido «do contra», que «só sabe
dizer mal» e que está interessado numa política
de «terra queimada», a verdade é que uma das
mais essenciais características do PCP é, aos mais
variados níveis de intervenção, o seu profundo
empenho construtivo na solução dos problemas do
povo e do país, a generosidade sem limites e os esforços
abnegados que aplica na defesa dos interesses populares, o seu
rico património de reflexão sobre as grandes questões
da sociedade portuguesa, a constante contribuição
dos seus militantes para o fortalecimento das organizações
sociais, a importante obra que desde há 20 anos realiza
no Poder Local democrático, a sua qualificada e construtiva
intervenção no Parlamento Europeu e na Assembleia
da República, bastando a este respeito lembrar que, em
sucessivas legislaturas, é quase sempre o PCP, com um diminuto
número de deputados, quem apresenta maior número
de iniciativas legislativas procurando dar resposta a legítimos
anseios e sentidas reclamações dos portugueses.
E, entre tantas outras iniciativas legislativas
apresentadas pelo PCP que testemunham um viva sensibilidade e
atenção do nosso partido a agudos problemas da nossa
sociedade, pensamos ser de inteira justiça destacar nesta
intervenção de abertura do nosso Congresso o nosso
projecto de lei sobre a interrupção da gravidez
visando por um lado ampliar os prazos de aborto eugénico
em função de recomendações da ciência
médica e, por outro, permitir legalmente o aborto por razões
económicas e sociais nas primeiras 12 semanas de gravidez,
designadamente em estabelecimentos de saúde públicos.
A alternativa que é necessário
enfrentar não é entre o «ser pelo aborto»
ou «ser contra o aborto». Nas condições
actuais, a alternativa é entre o aborto clandestino e o
aborto legal (possível em condições precisas
e significando assistência gratuita, ajuda à mulher,
solidariedade, segurança, higiene, protecção
da saúde, informação e prevenção).
A nova lei proposta pelo PCP não
é para promover o aborto mas para promover esse indiscutível
progresso que seria transferir o recurso ao aborto da esfera clandestina
para a defesa da legalidade e da segurança médica.
Finalmente, é indispensável
acentuar que a legalização proposta pelo PCP não
cria nenhuma obrigação aos que não pretendem
usufruir dessa possibilidade legal. Cada um pode decidir de acordo
com a sua consciência e vontade.
Mas daí se conclui também
uma abissal diferença entre a legalização
proposta pelo PCP e a proibição actualmente existente.
É que, com a legislação proposta pelo PCP,
quem não é pelo aborto legal não é
para ele empurrado. Mas, ao contrário, com a proibição
em vigor, as mulheres que desejariam interromper a gravidez em
condições de legalidade, assistência e segurança
são empurradas para a clandestinidade. A legislação
em vigor cria coacção e clandestinidade. A legislação
proposta pelo PCP valoriza a liberdade, a dignidade e a responsabilidade.
A orientação construtiva
do PCP está bem patente no seu Programa para uma democracia
avançada e nas suas propostas para uma política
de esquerda que represente um novo rumo para Portugal.
E por isso reafirmamos, neste nosso
Congresso, - que é necessária e é possível
uma nova política que sirva o povo e o país. Como
se sublinha no Projecto de Resolução: a sociedade
portuguesa dispõe de condições e potencialidades
para a solução dos grandes problemas nacionais.
O país tem recursos naturais e humanos que lhe permitem
acreditar num futuro diferente e melhor. Uma experiência
humana e histórica de séculos, o que lhe dá
uma coesão nacional ímpar na Europa. Uma cultura
própria e uma reconhecida adaptabilidade do povo português
às alterações de condições.
Uma juventude disponível e numerosa. Tendo por base estas
condições e potencialidades é possível
desenvolver a economia, travar os processos destrutivos, combater
o desemprego e melhorar as condições de vida, nomeadamente
através dos salários e das reformas e promover a
educação, a ciência e a cultura.
E é com base no Programa de uma
nova política que se contrapõe claramente a política
que une o PS, PSD e PP, que nós queremos assumir, não
apenas no discurso mas na vida, como um partido portador de
uma alternativa democrática e como um grande pólo
aglutinador das vontades e aspirações de esquerda
existentes na sociedade portuguesa.
Com efeito, o premeditado e voluntário
enfeudamento do PS ao neoliberalismo e à política
do grande capital conduz directamente à evidência
de que o reforço político e eleitoral do PCP
é o factor determinante e decisivo para a construção
de uma alternativa democrática.
É com este objectivo,
que ao nosso XV Congresso através da proposta da Resolução
Política, é proposto todo um vasto conjunto de orientações
e de linhas de trabalho visando aproveitar as favoráveis
condições sociais e políticas que consideramos
existirem para a afirmação e o crescimento da
influência e do prestígio do PCP.
Nesse sentido, propomo-nos trabalhar
audaciosamente para uma ligação cada vez mais profunda
do PCP com as massas populares e com os seus problemas e para
o reforço geral da sua organização, iniciativa
e acção política, bem como da sua intervenção
nas instituições.
Propomo-nos trabalhar decididamente
para ampliar ainda mais a contribuição dos comunistas
para o desenvolvimento dos movimentos e lutas sociais e para a
afirmação na sociedade portuguesa de um vasto e
actuante movimento de opinião unido em torno dos grandes
valores e propostas de uma política de esquerda.
Propomo-nos trabalhar, para impulsionar
um amplo movimento de debate, reflexão e acção
comum com outras correntes e sectores democráticos, para
a dinamização da CDU e para um mais intenso diálogo
e relacionamento com milhares e milhares de cidadãos independentes
que desejam intervir nas grandes causas da esquerda.
Propomo-nos trabalhar com a ajuda preciosa
e o papel indispensável da JCP, para uma relação
mais dinâmica e uma comunicação mais viva
do Partido com as jovens gerações.
Propomo-nos trabalhar, para uma mais
forte afirmação do valor próprio das propostas
e do projecto político do PCP e da sua aptidão para
o exercício de responsabilidades governativas.
Não ignoramos nem as ásperas
dificuldades nem os obstáculos poderosos que o complexo
processo de construção de uma alternativa democrática
tem pela frente.
Mas sabemos também que os trabalhadores
e o povo português precisam de uma alternativa democrática
que, finalmente, acabe com o jogo de uma mera alternância
sempre em torno da mesma política.
E sabemos sobretudo que aos comunistas
portugueses não faltarão nem o ânimo, nem
a energia, nem a confiança, nem a audácia de pensamento
e de acção para tudo fazerem para que Portugal conquiste
uma nova política e uma alternativa democrática.
Camaradas:
Num breve balanço do trabalho
de direcção, da evolução orgânica
e da actividade do Partido, cabe dizer que concretizando as mudanças
na estrutura de direcção decididas pelo XIV Congresso,
foi assegurado num quadro de grande exigência e complexidade
políticas e de uma profunda renovação dos
quadros dirigentes, uma intervenção pronta e dinâmica,
e a unidade de orientação e acção
do Partido.
Apesar da manutenção dum
conjunto de condições objectivas desfavoráveis,
a organização do Partido, respondeu como um grande
colectivo de forma empenhada às tarefas e desafios de uma
exigente situação política e social, e teve
forças e energias para progredir em numerosos objectivos
orgânicos, verificando-se uma visível estabilização
num importante conjunto de indicadores orgânicos.
O colectivo partidário manteve
uma intensa actividade, marcada por uma significativa militância
e capacidade realizadora. Com uma intervenção multiforme,
na dinamização das lutas dos trabalhadores, dos
agricultores, das populações, em todas as batalhas
eleitorais, numa qualificada actuação nas instituições,
conseguiu-se ainda tempo e energia militante, para realizar com
êxito entre muitos milhares de iniciativas, a valiosa Campanha
Nacional de 150 000 contos, uma Conferência Nacional sobre
a organização e a intervenção do Partido
junto dos trabalhadores, e o importante ciclo de «Debates
com o País», um conjunto de 250 sessões de
trabalho com a participação de cerca de 20 000 pessoas.
Camaradas
Este balanço inegavelmente positivo,
não pretende esconder ou levar-nos a subestimar as muitas
insuficiências e dificuldades, atrasos e rotinas, debilidades
e fragilidades, aspectos críticos que assinalamos na Proposta
de Resolução Política e que foram explicitados
no debate que se realizou no Partido.
Em matérias de direcção,
revelaram-se dificuldades na articulação dos diversos
organismos e numa melhor preparação e assunção
pelo Comité Central de todas as suas competências,
acentuaram-se debilidades e funcionamento irregular de algumas
estruturas de apoio à Direcção Central, não
se progrediu como seria de desejar no trabalho de coordenação
de empresas e sectores de âmbito nacional ou pluridistrital.
Na política de quadros
continuaram e verificar-se problemas no seu equilibrado conhecimento
e avaliação, insuficiências na preparação
politico-ideológica e atrasos numa maior responsabilização
de mais militantes, e em particular de quadros operários,
quadros jovens, quadros femininos e não se pode pensar
nestes apenas em ano de Congresso. Permaneceu por fazer também
uma ampla reflexão sobre as condições e a
situação dos quadros funcionários que nos
permitam determinar as medidas necessárias para o reforço,
rejuvenescimento e renovação do valioso núcleo
de funcionários que o PCP possui.
Relativamente às questões
de organização,
manteve-se, apesar de muitos sinais positivos, um insuficiente
rejuvenescimento e renovação dos efectivos partidários
e de muitos organismos, um número reduzido e/ou funcionamento
deficiente dos organismos de base, a persistência de incompreensões
e dificuldades na regular realização das Assembleias
das Organizações, e mantiveram-se outros aspectos
defeituosos do estilo de trabalho em alguns quadros e organismos.
Camaradas
Queremos que o Congresso dê um
forte impulso para vencermos os problemas e dificuldades assinaladas.
É dum Partido Comunista mais forte, que trabalhadores,
os democratas e o povo português precisam. É por
um Partido mais forte que vamos trabalhar, concretizando as orientações
que os delegados ao Congresso vão aprovar. O Partido Comunista
que fará a passagem para o século XXI.
Um Partido que neste Congresso, assumindo
um inestimável património de luta, audácia,
criatividade, coragem e fraternidade revolucionária, reafirma
a natureza e identidade.
Nos seus objectivos de um projecto de
Democracia Avançada para o Portugal dos dias de hoje e
amanhã, que se funde com um projecto de transformação
social tendo por horizonte o socialismo.
Na sua natureza de partido da classe
operária e de todos os trabalhadores portugueses.
Na base teórica e num funcionamento
orgânico com uma profunda democracia interna, uma única
orientação geral e uma única direcção
central, numa visão articulada e complementar das suas
tarefas nacionais e dos seus deveres internacionalistas.
Somos um partido que considera o marxismo-leninismo
não como um código fechado, como um receituário,
um pronto a vestir, mas como um instrumento de análise
e guia para a acção, como um sistema aberto ao que
de melhor a Humanidade tem produzido, sujeito portanto à
evolução de teorias e conceitos que o constituem,
fruto da experiência, da prática, dos novos conhecimentos
e do diálogo crítico com outras teorias.
Um Partido que não entende o
«bom quadro», com grande «espírito de Partido»,
«com grande firmeza ideológica», como o homem
de confiança, o incondicional, o que cumpre o que vem de
cima sem criar problemas, o que transmite a decisão superior
sem lhe pôr nada da sua «alma», o que intervém
sem acrescentar nada da suas capacidade de criação,
mas pelo contrário, o que sabendo com clareza os objectivos
porque lutamos, interroga, questiona, defenda a opinião
própria embora sempre aberto à opinião contrária,
procurando inserir o seu contributo no trabalho colectivo.
Um Partido cuja actividade está
essencialmente ligada ao belo e generoso conceito que se chama
militância - entrega de horas de lazer, de trabalho gratuito,
de realização de pequenas e grandes tarefas que
não têm mediatização mas que representam
o empenho abnegado de quem luta pelas grandes causas, do progresso
social, da democracia e do socialismo.
Somos e queremos continuar a ser um
Partido aberto à vida e às novas realidades que
não se fixa em fórmulas e muito menos em fórmulas
caducas. Um Partido que não aprisiona a realidade em esquemas
pré-concebidos e que rejeita a absolutização
e a unilaterização de observações
e de análises.
Nada é mais alheio ao que defendemos
e aos objectivos porque lutamos do que o autoritarismo, o manobrismo,
os argumentos «tipo elástico», sempre adaptáveis
aos fins que se querem atingir, ou o culto dos mais responsáveis
ou ainda o «aparelhismo» e o subjectivismo na apreciação
dos quadros.
Numa situação tão
complexa e tão exigente mas também em que cresce
a influência e a autoridade do Partido devemos um grande
esforço para chegar a cada vez mais trabalhadores, a cada
vez mais portugueses, a estender as duas mãos aos que sinceramente
nos estendem as suas, a procurar colher os contributos daqueles
que sinceramente nos querem ajudar, a favorecer a aproximação
dos que no passado por esta ou por aquela razão se afastaram
mas que continuam a reconhecer neste Partido uma grande verticalidade
e uma referência singular de ética e de luta.
É portanto destas características
e princípios e com estes objectivos que nos propomos aprofundar
a intervenção política e o desenvolvimento
da organização junto daqueles que são a nossa
primeira prioridade: os trabalhadores portugueses.
Que nos propomos trabalhar
pela renovação e desenvolvimento da base teórica,
património dos comunistas e da humanidade, que permita
responder às profundas mutações da sociedade,
aos progressos da ciência, à necessária procura
de caminhos para a transformação social por que
lutamos.
Que nos propomos trabalhar
para o desenvolvimento das alianças sociais e políticas
que confirmem o PCP como pólo aglutinador de valores e
aspirações de esquerda, portador de uma alternativa
democrática. Alianças que ajudem a vencer concepções
sectárias, fechadas e virem ainda mais os comunistas para
todos os cidadãos e camadas sociais atingidas pela ofensiva
da oligarquia financeira e do capital monopolista.
Que nos propomos,
fundados na nossa identidade, no nosso património de luta,
de cidadania, de ética, reafirmar o modo específico
como assumimos o exercício democrático do poder
nas instituições, nas organizações
de massas, no próprio Partido. Um exercício do poder
que queremos límpido, transparente, ao serviço dos
trabalhadores e das populações do país. Um
exercício do poder como exigência da organização
e funcionamento democrático das instituições
e da sociedade portuguesa, onde a defesa das orientações
do Partido se articula com o respeito pela iniciativa, âmbito,
autonomia e vida democrática das instituições,
onde se conjuga a responsabilidade perante os eleitores com a
disponibilidade e responsabilidade política perante o Partido.
Camaradas
É para um Partido assim, comunista,
militante, orgulhoso dos seus 75 anos de vida, mais forte e capaz
de responder às exigentes tarefas orgânicas, ideológicas
e políticas da proposta de Resolução Política,
que avançamos 7 grandes orientações de
trabalho.
1ª
Uma direcção central renovada e simplificada
na sua estrutura e composição, em que o Comité
Central, principal órgão entre Congressos, assuma
a plenitude das suas responsabilidades [de orientação
superiores do trabalho do Partido, com uma composição
conforme as suas características essenciais, de classe,
de diversidade de conhecimentos e experiências, com uma
criteriosa distribuição geográfica, com mais
mulheres e jovens.]
Camaradas
A renovação de quadros
e responsabilidades que o Comité Central propõe
ao Congresso não é certamente nenhuma orientação
nova antes se funda no nosso património teórico.
É o prosseguimento firme e corajoso da substituição
de dirigentes mais antigos, que representam uma património
insubstituível de luta, que constituem uma grande riqueza
que o Partido precisa de defender e valorizar e que vai continuar
a trabalhar connosco mas que por razões de idade, saúde,
diminuição de capacidades e energias devem dar o
lugar a outros quadros mais jovens, que estejam em melhores condições.
Não é renovar por renovar. É um renovar
para melhor servir e continuar o Partido que esses valiosos quadros
trouxeram até nós.
2ª Reforçar a organização
partidária. Salientando
a importância para a superação das dificuldades
orgânicas de um Partido virado corajosamente para as massas,
[de um Partido que sabe valorizar, organizar e aproveitar integralmente
a intervenção dos seus quadros mais activos - o
que denominamos núcleo activo - de um Partido capaz de
adequar a resposta orgânica às especificidades próprias
das regiões e sectores, de um Partido que precisa de cuidar
da sua estrutura intermédia de direcção,
e em particular desse elo orgânico decisivo que são
as comissões concelhias, avançamos na proposta de
Resolução Política com as 3 direcções
principais:]
- a renovação e rejuvenescimento
das estruturas partidárias, e onde a adesão de novos
membros assume um papel crucial;
- a valorização do
papel do militante e o trabalho para elevar a militância
dos membros do Partidos;
- o desenvolvimento, reforço
e constituição de organizações e organismos
de base, as células.
3ª Desenvolver a democracia
interna no nosso funcionamento orgânico.
Possuímos, camaradas, um Partido com um funcionamento democrático
ímpar no quadro partidário português. Mas
não estamos satisfeitos. Consideramos que é necessário
progredir e na base dos nossos Estatutos dar mais e novos passos
criando condições para uma efectiva participação
de cada membro do Partido em toda a vida partidária. [
É condição decisiva para elevar a militância.
É condição essencial para que o Partido se
enriqueça com uma participação mais ampla,
juntando novas experiência e maior diversidade humana e
social. Não precisamos nestas matérias de grandes
invenções. Mas sim, com audácia, criatividade,
persistência, cumprir os princípios fundamentais
estabelecidos para a organização e funcionamento
do Partido.
Uma particular atenção
à abertura de espaços para a intervenção
dos membros do Partido, ao desenvolvimento de iniciativa e vida
própria dos organismos, à realização
regular das assembleias eleitorais.]
4ª Uma mais eficaz comunicação
do Partido com a sociedade. Como
todos sabemos, camaradas, não basta ter razão, ter
argumentos, ter propostas e iniciativas justas e sérias
para os problemas dos portugueses. É necessário
que os portugueses conheçam com verdade, as nossas teses,
as nossas ideias, as nossas posições. É necessário
que a mensagem do Partido chegue aos trabalhadores e ao povo.
Também sabemos das dificuldades
e obstáculos que enfrentamos nesse trabalho de informação,
propaganda e esclarecimento. [Do quadro de profundas desproporções
de recursos e meios comparativamente a outras forças políticas
beneficiárias do apoio do grande capital; da redução
da comunicação e mercadoria e dos cidadãos
a consumidores; do predomínio mediático da política
espectáculo, empobrecedora da democracia e secundarizadora
do debate de ideias.]
É assim camaradas que entre as
muitas direcções e medidas apontadas na proposta
de Resolução Política para travar com êxito
esta batalha sublinho a que me parece decisiva: os comunistas,
sem ignorar dificuldades, devem assumir uma mais ampla consciência
que o próprio Partido constitui uma grande e ímpar
rede de comunicação militante.
5ª Fortalecer a capacidade financeira
do Partido. [É uma
evidência camaradas que os nossos recursos, insuficientes
para uma melhor e maior desenvolvimento da estrutura orgânica
e da actividade partidária. Mantendo nós uma firme
posição sobre a necessidade de rigor transparência
e independência face a interesses económicos, em
matéria de financiamento partidário, lógico
é defender a necessidade de uma mais séria batalha
pelo aumento das receitas como se propõe na proposta de
Resolução Política: na elevação
do valor da quota e por mais camaradas a pagar quotas, no desenvolvimento
das receitas extraordinárias de contribuições
de militantes, amigos e simpatizantes, no avançar com audácia
em iniciativas na base de experiências bem sucedidas e novas
e criativas formas, na mais rigorosa exigência de cumprimento
do que está estabelecido sobre as contribuições
dos representantes e eleitos do PCP.]
O êxito da campanha dos 150 000
contos deve dar-nos uma grande confiança no desenvolvimento
desta imprescindível tarefa. [Outras direcções
importantes se sublinham: o criterioso estabelecimento do programa
de investimentos; um mais aprofundado trabalho de acompanhamento
e defesa do património, a continuação dos
esforços de contenção de gastos, e sobretudo
de uma boa gestão dos recursos disponíveis: duas
questões essenciais: um melhor controlo financeiro, uma
maior mobilização de mais camaradas para estas tarefas.
Que é e deve ser cada vez mais, uma tarefa de todo o Partido.]
6ª Assegurar e desenvolver a
dimensão nacional do projecto e do Partido. [Existem
desigualdades regionais e sectoriais de influência e trabalho
do Partido que necessitam de ser consideradas atentamente pela
nossa Direcção. Há que desencadear medidas
que impeçam que se ultrapassem limiares críticos,
relativamente ao trabalho orgânico e político em
certas regiões e sectores de actividade.] O PCP é
um Partido nacional, que precisa de assegurar e desenvolver essa
dimensão em todo o espaço do território do
país.
7ª Reforçar a cooperação
e solidariedade internacionalista.
A luta dos trabalhadores e do povo português está
objectivamente inserida no processo mundial de libertação
dos trabalhadores e dos povos. Defendendo firmemente a independência
e soberania nacional, considerando que a sua primeira e principal
responsabilidade é perante os portugueses e a sua luta,
o PCP é activamente solidário com a luta dos outros
povos e considera que a solidariedade dos comunistas, dos progressistas,
dos trabalhadores e dos povos é de capital importância
para o avanço da luta libertadora à escala dos diferentes
países e no plano mundial.
[Nos últimos quatro anos desenvolvemos
uma larga e diversificada actividade internacional. Foi linha
de direcção fundamental intervir com as suas posições
próprias na grande batalha política e ideológica
que tem percorrido o campo das forças progressistas, defendendo
com firmeza a necessidade de uma mais ampla e eficaz cooperação
de todas as forças de esquerda, democráticas e progressistas.
Dando uma grande atenção
ao desenvolvimento das relações no plano bilateral,
o PCP empenhou-se e empenha-se profundamente no plano da cooperação
multilateral dos partidos comunistas e outras forças de
esquerda na Europa. No quadro da iniciativa do conjunto dos partidos
que integram o Grupo de Esquerda Unitária Europeia/Esquerda
Verde Nórdica no Parlamento Europeu, sublinhamos e destacamos
o nosso empenho e participação no Comício
de Paris de 11 de Maio, que aqui vivamente saudamos pelo seu relevante
significado político.]
Conscientes das inúmeras e grandes
transformações e problemas que atravessam o mundo
dos nossos dias, da situação difícil em que
se encontram muitos partidos comunistas e forças de esquerda,
que daqui saúdo nas delegações aqui presentes,
desejo sublinhar, a enorme confiança que anima os comunistas
portugueses, a enorme vontade que nos impulsiona, o empenho com
que travamos a batalha por uma mais fraterna, solidária
e pronta resposta aos nossos deveres internacionalistas. Desejo
garantir-vos que junto dos jovens, das mulheres, de todo o povo
português, os comunistas portugueses continuarão
a defender intransigentemente o direito de cada povo e de todos
os povos à liberdade, à democracia, à paz,
ao desenvolvimento e progresso social, ao direito inalienável
de cada povo e de todos os povos a decidirem dos seus destinos.
Camaradas :
Como sabeis, a proposta de Resolução
Política que o Comité Central submete à apreciação
e votação do Congresso, integrando as grandes orientações
para o desenvolvimento futuro do nosso trabalho e da nossa intervenção,
tem também a natureza de um Relatório de Actividade,
através do qual a direcção do Partido procede
à desenvolvida prestação de contas que deve
ao colectivo partidário.
No balanço a que aí procedemos
da nossa luta nos últimos quatro anos, quisemos continuar
fiéis a princípios de verdade, de lucidez e de grande
exigência connosco próprios e por isso, de uma forma
que nenhum outro partido pratica, e como há pouco acabei
de expressar, assumimos clara e detalhadamente as nossas dificuldades,
insuficiências, limitações, atrasos, insucessos
ou resultados insatisfatórios em relação
a objectivos por que lutámos.
Mas, sem qualquer jactância ou
arrogância, pensamos sinceramente que o que ressalta fortemente
destes últimos quatro anos é que, pela corajosa
luta e dinâmica intervenção do PCP e pela
acção empenhada dos seus militantes, continuámos
a dar uma grande lição a todos aqueles que já
sentenciaram mil vezes a morte eminente do nosso Partido, a ruína
dos seus ideais e a falência do seu projecto libertador.
Pensamos sinceramente que, defrontando
anátemas, preconceitos, calúnias, discriminações
e alterações no plano nacional e internacional muito
adversas, o PCP foi o grande protagonista da luta contra direita
e contra a política de direita, que o PCP foi a grande
força que se bateu pela abertura de novos horizontes de
esperança e de mudança, e que o PCP cumpriu com
honra os seus deveres e responsabilidades para com os trabalhadores
e para como povo português.
E os trabalhadores e todos os portugueses
e portuguesas que partilham de aspirações de liberdade
e democracia, de igualdade e justiça social, de dignificação
humana e de respeito e valorização de quem trabalha,
de uma sociedade mais justa e solidária, de um pais mais
desenvolvido, soberano e independente, podem ter uma sólida
certeza : este Partido Comunista Português, que quer continuar
a ser digno do seu nome, da sua história, dos seus ideais
e do seu projecto humanista de transformação social,
não desertará de nenhuma batalha contra a injustiça,
a exploração e a opressão, não abdicará
nem renegará os grandes valores e as convicções
que há 75 anos impulsionam e iluminam a sua luta, e atento
aos novos desafios do tempo que vivemos, ocupará hoje e
amanhã, com renovada determinação e confiança,
o seu destacado lugar na primeira linha do combate pela grande
causa da democracia e do socialismo.
VIVA O XV CONGRESSO
VIVA O PARTIDO COMUNISTA PORTUGUÊS
Porto, 6 de Dezembro de 1996