Descontrolo financeiro do Ministério da Saúde
Intervenção do deputado Bernardino Soares
22 de Outubro de 1998
Sr. Presidente
Srs. Deputados
A primeira coisa que é preciso dizer quando falamos do descontrole financeiro
e da dívida do Ministério da Saúde é que ele sempre foi e continua a ser um
caminho aberto para a ainda maior privatização dos cuidados de saúde em Portugal.
Mais; a dívida do Serviço Nacional de Saúde é um instrumento propositadamente
utilizado por todos os que querem saquear e privatizar SNS.
Mas as razões para o descontrolo financeiro da área da saúde estão perfeitamente
identificadas. São os apetites vorazes dos grupos económicos e dos interesses
que dispõem de fabulosos lucros nesta área. E é sobretudo a conivência de sucessivos
governos com esta situação.
O Governo Socialista nunca quis afrontar estes interesses mesmo sabendo que
só assim será possível controlar a despesa e aplicar na melhoria dos cuidados
de saúde os recursos existentes.
E na área dos medicamentos isto é por demais evidente. Nesta área se acumulam
uma boa parte dos gastos desnecessários e que apenas servem a quem com eles
acumula lucros desmesurados.
Por isso o PCP elencou, no seu Programa de redução dos gastos com medicamentos,
medidas concretas e de eficácia comprovada para pôr fim ao desperdício e ao
prejuízo para o Estado e para os utentes.
Para o PCP é fundamental que de uma vez por todas se tomem medidas para que
os medicamentos genéricos, que são em média 20 a 30 % mais baratos possam de
facto ser uma alternativa. Tal como tem acontecido em países como a Espanha,
a França, a Itália ou a Holanda em que se tomaram medidas para promover o mercado
de genéricos.
O PCP propõe igualmente que se institua a prescrição pelo princípio activo,
mantendo a possibilidade de os médicos, querendo indicarem a marca do medicamento
que prescrevem. Mas consideramos importante que os utentes tenham a possibilidade
de informadamente optar, dentro do mesmo princípio activo por um medicamento
mais barato e com a mesma eficácia terapêutica. Por outro lado é fundamental
que se institua de uma vez por todas um Formulário Nacional do Medicamento,
alargando afinal para todos os serviços de saúde aquilo que já se faz no interior
dos hospitais. Não há nenhuma razão, a não ser a vontade de privilegiar interesses
económicos, que justifique que este formulário ainda não exista.
Finalmente não podemos admitir a continuação da situação que hoje existe para
muitos medicamentos que são prescritos nos hospitais e centros de saúde. Existem
hoje uma série de medicamentos, que dão mais despesa ao Estado ao serem comparticipados
quando são receitados e aviados nas farmácias comerciais do que se fossem gratuitamente
dispensados nos próprios hospitais e centros de saúde.
É absolutamente inadmissível que desta forma se esbanjem milhões de contos perante
a passividade e a complacência do Governo. Nem sequer estas medidas põem em
causa a actividade económica nesta área. O que não podemos permitir é que continue
este descalabro de lucros completamente ilegítimos e imorais à custa dos impostos
e dos recursos da saúde.
Temos no nosso país um constante subfinanciamento da saúde.
Temos carências gritantes nomeadamente no acesso aos cuidados de saúde.
Temos uma percentagem de gastos dos cidadãos com a saúde, para além do que pagam
já nos impostos, de 40% do total, enquanto que a média europeia é de 25%.
E no entanto mantém-se esta situação nos gastos com medicamentos.
Com estas propostas do PCP vai fazer-se finalmente o tira teimas, o teste do
detector de mentiras. E isto é também para os Srs. Deputados do PSD.
Vamos ver quem de facto se preocupa realmente com o descontrolo das contas do
SNS e quem está pouco ligando à saúde dos portugueses tentando abrir caminho
para uma ainda maior privatização da saúde.
As propostas do PCP são contributos reais e de eficácia comprovada para resolver
esta situação. Veremos como se comportam em relação a elas o Governo e os restantes
Partidos.
Já não se trata aqui de medidas que impliquem entendimentos diferentes da política
de saúde; Trata-se de pôr fim ao saque, à pilhagem dos dinheiros do Serviço
Nacional de Saúde.
Disse.