No centenário do nascimento de Bento de Jesus Caraça, entrecruzam-se
os mais diversos testemunhos, memórias, apreciações. Vêm
à tona recordações preciosas de quem com ele chegou a conviver.
E é importante relembrar, também desta forma vivida, uma época
da nossa história ainda tão próxima e, no entanto, as mais
das vezes votada ao esquecimento. Não apenas pela memória. Mas
para, recuperando-a, lançar novas pontes para o futuro. De alguma forma,
desenterrar as memórias do que foi Bento Caraça para, aprendendo
com elas e no quadro da realidade actual, avançar no espírito
deste grande humanista.
Aqui damos nota do testemunho de Dias Lourenço, que conheceu, aprendeu
e privou com Bento Caraça. Testemunho único, entre muitos outros.
Que tipo de personalidade era Bento de Jesus Caraça?
Estamos hoje a comemorar o centenário do nascimento de Bento de Jesus
Caraça. É o centenário de uma grande figura nacional -
da ciência, da cultura, da política. Um dos percursores mais destacados
do movimento de resistência que nasceu como resposta à ditadura
fascista. Como intelectual avançado, progressista, comunista, teve uma
acção muito importante, num tempo em que a ditadura fascista se
instalou no nosso país. Por tudo isso é uma figura que justamente
merece a homenagem, não só do mundo culto português, mas
também de todos aqueles que estão interessados no avanço
da liberdade, da democracia, do progresso social no nosso país.
Há entretanto uma dimensão da sua personalidade que me parece
particularmente importante destacar. Bento de Jesus Caraça foi um grande
pedagogo. Deu uma contribuição extraordinária à
pedagogia virada para a cultura popular. Procurou sempre que a sua cultura científica
fosse como que um degrau para aqueles que não tinham acesso ao ensino
superior, e até ao ensino médio, ou mesmo a qualquer forma de
ensino. E assim deu uma contribuição impar para elevação
cultural dos operários, dos trabalhadores, no seu esforço de autodidactas.
Sendo filho de camponeses, camponeses alentejanos, da zona do latifúndio,
da zona do Redondo, onde se situava a parte mais concentrada do latifundismo,
sempre teve orgulho de afirmar as suas origens de camponês, as suas origens
de classe.
Em 31/32, já então como professor universitário, Bento
de Jesus Caraça começa a desenvolver uma actividade múltipla,
ligada também ao movimento operário de então.
Que actividade desenvolve, nessa altura, em ligação com o movimento operário?
Já como professor, é convidado por Bento Gonçalves para
dar aulas em cursos de aperfeiçoamento. Eram cursos organizados pelo
movimento sindical, antes da fascização dos sindicatos, numa altura
em que a ditadura fascista já tinha triunfado e, ao movimento sindical,
se colocavam tarefas de sobrevivência.
O fascismo iria depois pôr fim, com a Constituição de 33,
aos sindicatos independentes. Em 1 de Janeiro de 34, os velhos sindicatos acabaram.
Só podiam continuar como sindicatos nacionais, riscando do seu estatuto
a luta de classes.
É nesta fase difícil que os sindicatos apostam no desenvolvimento
de uma certa acção cultural. Era uma forma de encontrar terrenos
de encontro, de debate, de desenvolvimento cultural. Neste início dos
anos 30, um dos grandes sindicatos da classe operária portuguesa era
o dos arsenalistas da Marinha, em Lisboa, em frente da Câmara. Este sindicato
teve um papel muito importante na tomada de consciência do movimento operário.
Bento Gonçalves, como torneiro do Arsenal da Marinha, participava activamente
no trabalho desenvolvido por este sindicato. É em ligação
com este trabalho que Bento Gonçalves entra em contacto com o professor
Bento de Jesus Caraça e o convida a dar lições para os
cursos de aperfeiçoamento.
Em que consistiam esses cursos de aperfeiçoamento?
A experiência que tenho é no sindicato de Vila Franca. O nosso
curso de aperfeiçoamento o que era? Ensinavam-se disciplinas como matemática,
francês, gramática, português. Eu até era professor
de esperanto...
O objectivo era também criar uma base de atracção, sobretudo
para os trabalhadores jovens, mulheres e homens. Elevar a consciência
política dos trabalhadores dessa época. Por exemplo, quando se
dava filosofia, falava-se em Marx, em Lénine, nas grandes figuras do
movimento operário, nas teorias revolucionárias da época,
na história revolucionária do mundo. Tentava-se criar uma base
de cultura, política também, filosófica, com os trabalhadores
que participavam nesses cursos de aperfeiçoamento. Estava-se no início
dos anos 30 e importa não esquecer que é nessa altura que se inicia
a feroz repressão fascista.
É para um leccionar num destes cursos de aperfeiçoamento, do sindicato
dos arsenalistas da Marinha, que Bento Gonçalves convida Bento de Jesus
Caraça. E é então, e através de Bento Gonçalves,
que se cria a base de relação política de Bento de Jesus
Caraça com o PCP.
Eu viria a conhecê-lo mais tarde. Por feliz iniciativa do meu pai, presidente
do Sindicato de Vila Franca, e que sempre teve a preocupação de
interessar os filhos pela cultura e pela política, vim para Lisboa, frequentar
o curso industrial. Comecei então a tomar contacto com a juventude comunista.
E é esse contacto que me leva depois a matricular-me na Universidade
Popular, então muito conhecida entre os jovens operários da região
de Lisboa.
Bento de Jesus Caraça era um dos professores da Universidade, com outras
destacadas figuras da cultura portuguesa. Mais tarde ascendeu à direcção
da Universidade Popular.
E as lições como eram? Eram na base de uma intervenção
do mestre, para abrir ao debate. Havia lá professores como Agostinho
da Silva, Diogo de Macedo, Barbosa de Magalhães.
Em 42/43, a Universidade Popular foi encerrada pelo fascismo. Mas entretanto
muito trabalho tinha sido feito.
Ele foi meu professor de matemática. Sabe-se como os jovens estudantes
em geral têm horror à matemática. Então como hoje.
Mas o professor Bento de Jesus Caraça sabia ensinar os alunos a terem
amor à matemática, a compreenderem a sua importância como
instrumento para uma rápida compreensão e intervenção
nos problemas da vida. Ensinava a matemática começando pelas coisas
mais atraentes para os alunos. Coisas que lhes dissessem algo. Foi um grande
pedagogo.
Cursos de aperfeiçoamento. Universidade Popular. No fundo, estamos a falar também de formas de resistência ao fascismo. Algumas das muitas em que Bento Caraça participou. Queres referir outros exemplos?
Há muitos outros exemplos. A participação no jornal "O
Diabo". Os passeios no Tejo.
Nós, os jovens do movimento progressista, do movimento comunista da época,
apostávamos então em criar uma base de intervenção
na vida cultural e política. Foram-se criando núcleos e é
nessa base que se organizam os passeios no Tejo, de barco, em que participavam,
em média, 30 a 40 pessoas, intelectuais, trabalhadores como eu, e outros.
Bento de Jesus Caraça estava presente em todas estas iniciativas.
Estes passeios de barco, que tiveram início por volta de 1933, foram-se
organizando até 41. Reuníamos ali numa zona arborizada perto de
Azambuja. E aí fazíamos o piquenique - um pretexto para o convívio
e o debate. Participavam também esperantistas. E jovens de outras organizações.
Havia, por exemplo, os Naturistas - que resolveram avançar com um movimento
naturista que o fascismo não se atrevia a fechar.
Chegámos a fazer, em Vila Franca, grandes convívios, com cerca
de 300 participantes, em particular jovens intelectuais ou com preocupações
culturais.
Este período corresponde a uma fase em que, face às manobras de
Salazar, o movimento democrático, principalmente com a actividade mais
dinâmica dos comunistas, tenta organizar-se no sentido de arrancar as
liberdades mínimas. De aproveitar as mínimas possibilidades legais
- da legalidade colecte de forças do fascismo. O que não era nada
fácil, com a repressão. E com a censura.
Já que estamos a falar dos muitos obstáculos que então era preciso ultrapassar, queres falar um pouco dessa grande barreira que era a censura?
Todas as formas de actuação e resistência anti-fascista
tinham que passar várias barreira - a barreira policial e a barreira
da censura. Como vencer a intervenção da censura, que era feroz
na época? Tínhamos que encontrar as formas de vencer esta barreira.
De fazer passar a mensagem.
Bento de Jesus Caraça e toda a nossa intelectualidade mais destacada
teve que enfrentar essa outra arma poderosa do fascismo, que era a censura.
E que era um obstáculo a que pudesse exercer um papel fundamental no
debate de ideias, na cultura. Havia jornais que eram impedidos de sair sem alterarem
um ou outro parágrafo. O lápis azul da censura era um inimigo
terrível, na difusão das ideias, da cultura, da informação.
Havia mesmo comissões distritais de censura, comissões para o
teatro, comissões para a imprensa, etc.
Em termos literários, a acção da censura é impressionante.
Foram apreendidos três mil e trezentos e cinco livros nacionais e estrangeiros
(trezentos e vinte e dois portugueses). Escritores de uma grande projecção
tiveram dezenas de livros proibidos e apreendidos. Oito jornais estrangeiros
estavam impedidos de entrar em Portugal. Um dos atingidos, de entre as publicações
nacionais, foi o jornal "República", que teve um papel muito
importante na informação na época.
E como é que se conseguia, de alguma forma, tornar essa situação?
Com a participação em publicações como "O
Diabo", por exemplo.
"O Diabo" era um jornal anti-fascista, criado em 34. Teve directores
como Quintanilha, Ferreira de Castro. Foi entretanto o seu administrador, o
Horácio Cunha, que alargou o âmbito de acção desta
publicação. Era um homem que queria abrir portas. E abriu as portas
ao jovens. E os jovens entraram. Entre eles Álvaro Cunhal.
Bento de Jesus Caraça foi um dos grandes colaboradores de "O Diabo".
Convivia com isto tudo. E estes jovens de "O Diabo" - eram o diabo
em figura e gente... Nós procurávamos penetrar em todos os terrenos
em que era possível intervir, debater os grandes problemas da época.
Fui colaborador de "O Diabo", entre grandes nomes da intelectualidade
da altura. E costumo dizer que sou "um pigmeu entre gigantes".
Não esquecer nunca que esta foi a época do triunfo do nazismo,
do triunfo da República em Espanha, do triunfo da Frente Popular em Espanha
e França. O começo e o fim da guerra civil espanhola. É
um período extremamente agitado da vida mundial. Que se reflectia muito
profundamente em Portugal.
Como se compreende era uma época de acesas polémicas.
Este é o pano de fundo em que Bento de Jesus Caraça virá
a assumir uma outra grande realização - a colecção
"Cosmos".
Como surgiu a ideia da colecção "Cosmos"?
Nesta época, de grande repressão, os presos políticos
iam directamente para Angra do Heroísmo.. De Angra iam depois para o
Tarrafal uns, outros ficavam lá, outros regressavam. Mas Angra era, em
geral, o porto de chegada dos presos políticos que iam deportados.
Ora bem, um dos presos políticos deportados foi o Manuel Rodrigues, que
era comunista, e viria a ser o principal detentor do capital inicial da editora
"Cosmos". Foi ele mesmo que me contou esta história.
Em Angra, Manuel Rodrigues encontrou-se com o Bento Gonçalves, já
então conhecido como secretário-geral do PCP, e colocou-lhe uma
questão: "Ó Bento - eu tenho umas coroas e não sei
que lhes hei-de fazer. Está-me a custar perder aquilo de qualquer maneira...
Tens alguma ideia da utilidade possam ir a ter?".
E o Bento Gonçalves respondeu: "Sim. Tu podes avançar com
uma editora de livros virados para a cultura popular. Bem feitos, para passar
as malhas do fascismo. E podes fazer uma coisa com grande expansão -
cultural e revolucionária. E olha - a pessoa indicada para dirigir isso
é o professor Bento de Jesus Caraça. Vais ter com ele - dizes
que vais da minha parte - e pões-lhe esse problema".
Bento de Jesus Caraça aceitou a proposta e assumiu a direcção
da colecção. Foi este o ponto de partida para a criação
da "Cosmos".
Qual era o objectivo da "Cosmos"? Era ser uma editora cultural, com
caracter enciclopédico. O que bento de Jesus Caraça concebeu foi
uma enciclopédia virada para a cultura popular. A colecção
englobava a cultura nas suas diversas expressões, com a edição
de livros de autores estrangeiros e portugueses, livros que focassem de uma
forma mais directa os diferentes sectores de conhecimento, da actividade cultural,
científica. Todos os 129 volumes publicados pela Cosmos - um milhão
de exemplares - se integram nesta perspectiva.
A "Cosmos" foi uma outra grande criação desta personalidade
multifacetada que era Bento de Jesus Caraça.
Que outras facetas da sua personalidade gostarias de realçar?
Penso que há uma parte da personalidade de Bento Caraça que não
está a ter o necessário relevo. Claro que merece todo o relevo
o papel que ele teve na vida cultural e científica. Mas penso que a forma
como se tem vindo a falar da sua actividade democrática, tem sido um
pouco limitada. E essa actividade teve uma expressão muito vasta. O nome
de Bento de Jesus Caraça está ligado a toda a actividade antifascista
e democrática desenvolvida na época. Nomeadamente quando, com
o fim da guerra e a derrota do nazismo, Salazar se vê obrigado a manobrar,
a designar o fascismo português "democracia orgânica",
e o movimento democrático tenta afirmar-se, aparecer à luz do
dia, participar na vida política.
Bento de Jesus Caraça destaca-se desde logo nesta acção
do movimento democrático, que então tentava forçar formas
de acção mais abertas para poder avançar.
Na análise dos acontecimentos desta época é preciso ter
sempre presente que não era possível desenvolver uma actividade
política contra o fascismo, sem ter estruturas clandestinas, ilegais.
Quer dizer - todos esses movimentos legais que apareceram na época tiveram,
na sua criação e dinamização, na sua dinâmica
até, a acção dos movimentos que estavam na clandestinidade.
Em particular do Partido Comunista Português, da juventude comunista.
Em 1943 é criado um organismo clandestino, com uma grande força
no movimento democrático em Portugal - o Movimento de Unidade Nacional
Anti-Fascista - o MUNAF. Este movimento englobou e trouxe ao seu seio os democratas
mais combativos, aqueles que se dispunham mais a assumir o risco da acção
política na época. Principalmente comunistas.
Este movimento era encabeçado pelo Conselho de Unidade Nacional, dirigido
pelo general Norton de Matos, e era constituído por núcleos de
anti-fascistas destacados, combativos.
O Bento de Jesus Caraça pertenceu ao Conselho Nacional de Unidade Anti-Fascista.
Um facto que tem sido um pouco apagado..
O Conselho de Unidade Nacional Anti-Fascista vivia secretamente, com rígidas
formas de secretismo.
E naturalmente cada um só sabia aquilo de que precisava de saber. Por
isso mesmo, muitos não sabiam que o Bento de Jesus Caraça, como
outros, era membro do PCP, embora não estivesse no Conselho como membro
do PCP. Mário Soares, cujo liberalismo relativamente à cronologia
e verdade da história é conhecida, veio nestes dias à televisão
pôr em causa a qualidade de comunista de Bento de Jesus Caraça.
Mas a verdade é que Bento Caraça foi militante do PCP.
Ao Conselho, o Bento de Jesus Caraça deu uma contribuição
muito grande, que muitos poucos sabem. Foi ele quem elaborou o projecto de programa
para o Movimento de Unidade Nacional Anti-Fascista. Que naturalmente foi depois
submetido à discussão no Conselho, em que houve opiniões
diversas e o programa saiu com a recolha de todas essas opiniões. Mas
Bento de Jesus Caraça teve a confiança de todos para fazer um
documento destes.
E das suas características humanas, queres dizer alguma coisa, contar algum episódio que tenhas vivido com ele?
Aqui vai um episódio, que me parece de todo o interesse.
Numa reunião do Conselho Nacional, estavam presentes o Dr. Nuno Simões,
que era advogado de Lisboa, e um médico do Porto, o Dr. Veiga Pires.
Como democratas, eles eram muito amigos os dois. A certa altura o Nuno Simões,
que era assim "meia bola e força", faz considerações
desprimorosas para o povo do Porto. E o Veiga Pires interveio muito chocado
e diz que ali está a ser insultado "o heróico povo do Porto".
Começam a discutir os dois e desafiam-se para a pancada, quando acabasse
a reunião.
Entretanto a reunião teve um intervalo para o almoço e eu agarrei
o professor Azevedo Gomes e o Bento de Jesus Caraça e disse-lhes: "Meus
amigos, não devemos deixar que estes dois homens saiam daqui inimigos".
Eles foram falar-lhes e conseguiram. Saíram dali amigos.
Bento de Jesus Caraça tinha essa grande outra particularidade - a capacidade
de congregar pessoas de opiniões diferentes, um grande poder de ganhar
para uma ideia comum os que tinham ideias diferentes entre eles. Era um homem
com uma grande abertura. Um grande prestígio. E uma forma de falar politicamente
elevada.
Este caso é significativo também do espírito de Bento de
Jesus Caraça.
Bento de Jesus Caraça foi, como é conhecido, alvo da repressão fascista. De perseguições que iriam mesmo acelerar a sua morte. Acompanhaste este processo?
Sim. A certa altura desencadeia-se a repressão fascista contra os intelectuais,
contra o professorado, até pelo seu apoio às lutas estudantis.
E naturalmente pela sua participação no movimento antifascista.
Esta onda repressiva corresponde também a uma fase em que - com base
no trabalho dos movimentos antifascistas ilegais - se tinha conseguido organizar
um movimento legal - o MUD.
É em 1945 que é constituído o MUD e o MUD juvenil. E começam
a ser criadas outras organizações - o movimento para a paz, o
movimento das mulheres.
Bento de Jesus Caraça, foi um dos dirigentes do MUD, um dos seus percursores.
E, nesta qualidade, começa então a ter que dar a cara, pelo que
cai sob a alçada da polícia. A primeira grande ofensiva é
a de 46, em que um grande núcleo de professores, dos mais destacados
do ensino universitário, são presos e, grande parte deles, expulsos
do ensino. Como foi o caso de Bento de Jesus Caraça.
Já então ele estava gravemente doente. E a prisão foi um
dos factores que mais contribuiu para a sua morte.
Tive contacto com ele praticamente até ao último minuto da sua
vida. Fui a sua casa, em Campo de Ourique, no próprio dia da sua morte.
Entro e vejo a casa cheia de gente consternada. Ele estava na agonia. Como eu
estava então na clandestinidade, tive que me vir embora.
Em síntese, que te parece mais importante dizer do que foi a vida e a personalidade de Bento de Jesus Caraça?
Bento de Jesus Caraça era uma pessoa admirável. Um homem de um
grande saber e de uma grande modéstia. E, por outro lado, com um grande
sentido humanístico. Ele era de uma humanismo que ressaltava na sua personalidade.
E uma pessoa de diálogo.
Ele foi um dos combatentes mais activos pela paz, pela liberdade, pela democracia,
pelo socialismo, pela abolição da exploração do
homem pelo homem. Um combatente denodado, decidido.
Penso que, quando hoje, no centenário deste homem, se está a exaltar,
e deve ser exaltado, a sua personalidade de cientista, de pedagogo, se deve
também necessariamente dar relevo à sua personalidade política,
ao que ele foi, em termos políticos, nas épocas duras do fascismo,
na luta contra a ditadura fascista. Isso também é importante dizer.